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Valdir Aguilera
 Físico e pesquisador

 

 

Almanaque - Edição 7 - julho de 2008

Físicos, matemáticos, engenheiros e quejandos

    Um físico, um teólogo e um sociólogo foram jogar golfe. Encontraram uma fila enorme de outras pessoas esperando para entrar em campo.
– O que está acontecendo? perguntou o físico.
– Um grupo de cegos começou a jogar há já algum tempo.
– Que maravilha! disse emocionado o teólogo. Deus sempre ajuda quem se ajuda.
– Isso é mérito da sociedade, corrigiu o sociólogo. Se ela oferece a oportunidade, o cidadão a aproveita.
Não conformado com a situação, o físico exclamou:
– Está bem, está bem. Mas, por que diabos eles não jogam à noite?


Problemas de lógica

A cidade de Divinópolis é exatamente igual a muitas outras do país. Seu cenário, suas histórias, suas igrejas, seus costumes não diferem em nada das demais, porém, a cidade é única quando se trata dos filhos dos Moraes. Seus filhos, Bento e João, por razões desconhecidas, têm uma peculiar aberração com respeito a verdades e mentiras. Bento é incapaz de dizer a verdade nas segundas, terças e quartas-feiras, embora, invariavelmente, o faça nos outros dias da semana. Seu irmão, similarmente, sempre mente nas terças, quintas e sábados, embora durante o resto da semana sempre diz a verdade.
Quando ouvi falar desses raros meninos em minha recente visita a Divinópolis, decidi encontrar-me com eles e observar seus peculiares comportamentos. Fui à casa dos Moraes e encontrei os meninos brincando na varanda.

– Olá, qual é o seu nome? perguntei a um deles.
– Eu sou Bento, respondeu o mais velho sem hesitação.
– Que dia é hoje? continuei, sentindo-me um perfeito psicólogo experimental.
– Bem, ontem foi domingo, disse o mais velho.
– E amanhã será sexta-feira, acrescentou o seu irmão.
– Espere um minuto, disse ao último, isso não me parece correto. Você está dizendo a verdade?
– Eu sempre digo a verdade nas quartas, respondeu.

Nesse instante nossa charla foi interrompida pela mãe dos rapazes. Após conversar um pouco com ela, voltei a encontrar os meninos entretidos em suas brincadeiras e não pude mais conversar com eles.

O mais curioso de tudo é que, a despeito da dúbia confiabilidade dos meninos, fui capaz de inferir com absoluta certeza o dia da semana em que me encontrei com eles e, também, o nome do mais velho e do mais novo. E você? Também será capaz?

Resposta na próxima edição.

Resposta da edição anterior:

(Alexandre, Comunicação, Biscoito, feirante)
(Carlos, Física, Vareta, taxista)
(Francisco, Engenharia, Goiaba, vendedor)
(Humberto, Matemárica, Barriga, corretor)
(Sérgio, Biologia, Bolinho, comerciante)

Não se confunda

Algumas palavras em inglês podem confundir-nos por sua semelhança com outra do vernáculo. Não se deixe enganar. Iremos mostrar algumas delas para prevenir os leitores interessados em inglês.

arm (arm) s. Não é arma, mas, sim, braço. A expressão idiomática arm in arm significa de braços dados.

compass (cômpass) s. É uma bússola. Se você quiser se referir a um compasso, use a palavra no seu plural: compasses ou a pair of compasses.

ingenuity (engínuiti) s. Você é muito ingênuo se pensa que essa palavra significa ingenuidade. Seu sentido em português é de engenhosidade, inventividade. Se você precisar da palavra ingenuidade, lembre-se de ingenuousness.

sensible (sênsebol) Raramente é usada em expressões como "sensível à dor". Nestes casos, é preferível usar sensitive. Um dos usos mais freqüentes tem a acepção de "sensato". Veja o exemplo: This is a very sensible thing to do. Esta é uma medida muito sensata a tomar.

Pérolas dos vestibulares

Coleção de respostas colhidas dos exames vestibulares para ingresso em universidades
(Os comentários jocosos, em itálico, são dos professores que corrigiram as provas.)

Esta seção, embora bem-humorada, serve, também, para denunciar a baixa qualidade de ensino em nosso país. Esses candidatos foram aprovados em todos os níveis pré-universitários em nossas escolas. Estariam, portanto, qualificados para inscrever-se em cursos superiores. Não são diretamente responsáveis pelas condições de instrução em que se encontram. Merecem, por isto, nosso respeito.

Numa prova de redação de uma universidade brasileira, o tema proposto foi: A TV forma, informa ou deforma?

Eis algumas pérolas encontradas nos textos:

61. A TV possui um grau elevadíssimo de informações que nos enriquece de uma maneira pobre, pois se tornamos uns viciados deste veículo de comunicação. (Deus!)

62. A TV no entanto é um consumo que devemos consumir para nossa formação, informação e deformação. (Fantástica!)

63. A TV se estiver ligada pode formar uma série de imagens, já desligada não... (Ah bom, uma frase sobrenatural.)

64. A TV deforma não só os sofás por motivo da pessoa ficar bastante tempo intertida como também as vista. (Sem comentários.)

65. A televisão passa para as pessoas que a vida é um conto de fábulas e com isso fabrica muitas cabeças. (Como é que pode?)

66. Sempre ou quase sempre a TV está mais perto denosco (?), fazendo com que o telespectador solte o seu lado obscuro. (Esta é imbatível.)

67. A TV deforma a coluna, os músculos e o organismo em geral. (É praticamente uma tortura!)

68. A televisão é um meio de comunicação, audição e porque não dizer de locomoção. (Tudo a ver.)

69. A TV é o oxigênio que forma nossas idéias. (Sem ela este indivíduo não pode viver.)

70. ...por isso é que podemos dizer que esse meio de transporte é capaz de informar e deformar os homens. (Nunca tentei dirigir uma TV. )

Regrinhas simples para bem escrever

Como participante do grupo "Racionalismo" da Yahoo, temos oportunidade de receber muitos emails (o grupo tem hoje mais de mil inscritos). Entre os emails há alguns que poderiam ter sido mais bem escritos. Ocorreu-nos, então, sugerir algumas regrinhas que podem ajudar os interessados a melhorar sua redação.

Nesta edição do Almanaque, vamos continuar com mais algumas regrinhas simples de acentuação gráfica.

Vimos que as palavras oxítonas terminadas em a, e, o recebem acento gráfico, agudo se a vogal for aberta (café, picolé, vovó, cipó); circunflexo se a vogal for fechada (ateliê, você, vovô, cachepô).

Seguem a regra acima as palavras compostas de um verbo no infinitivo seguido de um pronome. Exemplos: contá-los, vendê-la, compô-lo. Também recebem acento gráfico as palavras oxítonas terminadas em em ou ens (se tiverem duas ou mais sílabas). Exemplos: porém, também, parabéns.

Exercício: quais destas palavras recebem acento gráfico e por que: sofa, vintem, urubu, cita-la, ha, refens, bens, dize-lo.

(continua)

Efemérides

1 jul 1646: Gottfried Wilhelm von Leibniz
Matemático, geólogo, jurista, historiador e filósofo alemão, descobridor do Cálculo Infinitesimal (simultânea e independentemente de Newton), nascido em Leipzig. Seu conceito do universo concebido como uma harmonia preestabelecida, sua análise do demônio, sua epistemologia, lógica e filosofia da natureza colocam-no entre os filósofos de maior estatura. Sua obra ajudou a moldar a mente dos iluministas. Faleceu em Hanover, em 14 de novembro de 1716.

2 jul 1914: Mário Schenberg
Engenheiro elétrico, físico, escritor e critico de artes plásticas, nascido em Recife, PE. Conhecido internacionalmente principalmente por seus trabalhos em Astrofísica, em especial na formação das estrelas supernovas. Faleceu em São Paulo, em 10 de novembro de 1990.

07 jul 1848: Francisco de Paula Rodrigues Alves
Nascido em Guaratinguetá, SP, foi Presidente da República de 1902 a 1906. É considerado o presidente civil mais notável. Reconstruiu e embelezou o Rio de Janeiro. Reformou a Saúde Pública e foi durante o seu governo que a febre amarela foi erradicada do país. Seu competente Ministro do Exterior, Barão do Rio Branco (José Maria da Silva Paranhos), se notabilizou por sua eficiente diplomacia em questões de fronteiras com a Bolívia, Uruguai e Guianas Inglesa e Holandesa. Foi governador de São Paulo nos anos 1900-1902 e 1912-1916. Reelegeu-se presidente mas, antes da posse, faleceu no Rio de Janeiro, em 18 de janeiro de 1919.

11 jul 1836: Antonio Carlos Gomes
Compositor brasileiro, nascido em Campinas, SP. Recebeu apoio pessoal do imperador D. Pedro II para estudar música no Rio de Janeiro e, mais tarde, em Milão, onde recebeu o título de Maestro Compositor após apenas três anos de estudos. Suas obras mais importantes são: A Noite do Castelo, Salvador Rosa, Maria Tudor, O Guarani, Lo Schiavo e Condor. Faleceu em Belém, PA, em 16 de setembro de 1896.

11 jul 1924: Cesar Lattes
Nasceu em Curitiba, PR. Com a idade de 23 anos, ele foi um dos fundadores do Centro Brasileiro de Pesquisas Física (CBPF), no Rio de Janeiro. Sua principal linha de pesquisa foram os raios cósmicos. Em suas experiências, descobriu o méson pi, ou píon, quando ainda tinha 24 anos. Com seu grupo, determinou a massa das denominadas bolas de fogo, um fenômeno espontâneo que ocorre durante colisões de altas-energias. Faleceu em Campinas, SP, em 8 de março de 2005.

16 jul 1925: Paulo Leal Ferreira
Físico nascido no Rio de Janeiro, co-fundador do Instituto de Física Teórica, da Sociedade Brasileira de Física e da Academia de Ciências do Estado de São Paulo. Suas pesquisas em Física foram direcionadas para tópicos fundamentais, com ênfase em Teoria Geral de Partículas e Campos (Equação de Dirac, potenciais confinantes, quark model, álgebras deformadas). Faleceu em São Paulo, em 30 de dezembro de 2005.

18 jul 1853: Hendrik Antoon Lorentz
Físico holandês, nascido em Arnhem, conhecido pelos seus notáveis trabalhos nos campos da eletrodinâmica e mecânica clássicas. Abiscoitou o prêmio Nobel de Física em 1902, por sua teoria da radiação eletromagnética a qual, confirmada pelos trabalhos de Zeeman, deu origem à Teoria da Relatividade Especial de Einstein. Faleceu em Haarlen, em 4 de fevereiro de 1928.

28 jul 1904: Pavel Alekseyevich Cherenkov
Físico russo, nascido em Voronezh. Foi o primeiro a detectar a chamada radiação cerenkov (note a ausência da letra h), que é uma emanação eletromagnética emitida por uma partícula altamente energética ao passar por um meio transparente com velocidade maior do que a da luz naquele meio. Por esse trabalho, compartiu com Igor Y. Tamm e Ilya M. Frank o prêmio Nobel de Física de 1958. Faleceu em Moscou, em 6 de janeiro de 1990.


 

Desta edição para o Almanaque

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