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As 1001 noites - A história esplêndida do Príncipe Diamante
Conta-se, nos livros dos sábios, poetas e outros homens superiores, que viveu outrora um rei
magnífico que era acompanhado a cada passo pela felicidade e a boa fortuna. Sua justiça era
mais rigorosa que a de Kisra Anuchiruan, e sua generosidade, mais liberal que a de Hatim Tay. Louvado
seja Aquele que dotou a terra de alguns homens excepcionais, assim como colocou o sol no
firmamento, deu beleza às mulheres e rosas à primavera. Esse rei era chamado Chams Xá e tinha
um filho cujos encantos ultrapassavam o esplendor das estrelas quando brilham sobre o mar. Seu
nome era Almás, Diamante. Um dia, Diamante disse ao pai:
Diamante saiu deste encontro cabisbaixo e pálido. Chegou à casa mergulhado na mais negra tristeza, pois o amor da princesa Mohra havia-lhe invadido o coração por sua vez. Quando revelou seu segredo ao pai, este quis logo andar seus embaixadores pedir ao rei Kamuz a mão da filha para Diamante. Mas Diamante opôs-se, dizendo: – Antes, irei pessoalmente, darei a resposta exigida e conquistarei a princesa com meu mérito. As súplicas do pai, as lágrimas da mãe de nada adiantaram. E ele partiu para as terras de Sim e Massim. Quando lá chegou, foi contemplar o palácio daquela que o tinha arrancado de sua pátria. Enquanto o rondava, reparou num canal, mergulhou na água e deixou-se levar para dentro do jardim. Lá, passeando entre as árvores e as flores, achou-se de repente em frente a um tanque de mármore à beira do qual se estendia indolentemente, como uma pantera em repouso, uma adolescente tão bela que todo o jardim brilhava de seu esplendor. Concluiu que estava diante da princesa Mohra. Enquanto permanecia assim em êxtase à beira de um córrego, uma das acompanhantes da princesa viu-o e apressou-se em dizer a sua ama: – Ó coroa de nossas cabeças, estava andando ao longo do córrego quando vi, refletida na água, a imagem de um adolescente tão belo que não sei se pertence aos filhos dos homens ou dos gênios. A princesa mandou outra acompanhante verificar, e esta voltou gritando: – Vi-o! Mas não consegui descobrir se é um anjo ou um homem. A essas palavras, a princesa sentiu-se atiçada pela curiosidade e foi olhar. E ficou pálida, vítima de uma paixão repentina e violenta. Gritou a uma de suas escravas: – Vai trazê-lo à minha presença, senão morro. Diamante, receando que a princesa chamasse os guardas do pai para castigá-lo por ter invadido o jardim, fingiu-se de louco. Assim, quando a escrava o tomou pela mão com todas as precauções com que se segura uma mariposa e conduziu-o à presença da princesa sem par, o adolescente de cara de sol desatou a rir e a dizer disparates: "A mosca transformou-se em búfalo! O algodão virou-se argila por ação da água! O rato devorou o gato, e eu vou devorar todos vós!" A princesa acabou por convencer-se de que ele era mesmo louco e, decepcionada, entrou em convulsão como um franguinho ao qual torcessem o pescoço, pois o amor tinha-lhe invadido o corpo e o coração pela primeira vez na sua vida. Lembrou-se, contudo, que os loucos eram grandes santos, atormentados pelos gênios perversos e os demônios. Instalou o jovem num pavilhão especial do jardim e mandou suas escravas servi-lo com a máxima veneração. E elas passaram a disputar quem seria a primeira a varrer o chão onde ele pisava ou a recolher as sobras de suas refeições. Faziam relíquias com as aparas de suas unhas. Ora, um dia, a moça Ramo-de-Coral, a favorita da princesa Mohra, ao visitá-lo, perguntou-lhe o que o levara a procurar aquela terra. Respondeu: – Cheguei, ó encantadora, após peripécias e riscos sem conta, só para responder à pergunta da princesa Mohra: Que relação existe entre a pinha do pinheiro e a pinha do cipreste? Se conheces a resposta e ma comunicas, a sensibilidade de meu coração velará sobre ti.
Imediatamente, Diamante saiu do jardim sem ser visto, foi ao khan, montou um cavalo capaz de ultrapassar o raio e iniciou a busca, confiante no seu destino. Não conhecendo o caminho de Wakak, consultou um dervixe que encontrou numa encruzilhada, e este disse-lhe: – Abençoado moço, Wakak está situada no centro da montanha Kaf. É guardada por Mareds e Afarit. Aconselho-te a desistir de um empreendimento rodeado de perigos. Diamante respondeu que preferiria morrer nas suas tentativas a desistir por medo. Então, o dervixe encaminhou-o para a primeira etapa de sua travessia. Diamante chegou assim a um palácio grandioso cuja porta estava entreaberta. Pela abertura, viu uma jovem tão bela que faria torcer-se de inveja a lua nova. Tinha as cores da tulipa, e suas pupilas rivalizavam com as das gazelas da China. Diamante abriu a porta e entrou.
Latifa, enciumada e furiosa, transformou Diamante num gamo.
Acrescentou: – Agora que partes, deixarei sempre aberta no meu coração a porta da tristeza e só voltarei a sorrir quando tu voltares. Diamante montou no seu cavalo e partiu. O primeiro inimigo que encontrou foi um exército de etíopes gigantes, medindo dez côvados de altura. Diamante sacou a espada dada por Camila e matou com a maior facilidade um grande número deles. Os outros fugiram. O segundo inimigo foi um exército dos filhos do alcatrão, numeroso como um enxame de vespas silvestres e dirigido pelo sanguinário Mak-Mak, que silvava como a víbora cornuda. Apanhando o punhal com cabo de jade, Diamante plantou-o nas costelas do gigante que caiu como uma árvore cortada. Vendo seu chefe aniquilado, os pretos tremeram e fugiram. Diamante perseguiu-os e matou muitos deles.
– Sempre que precisares de mim, queima um destes pelos. Apresentar-me-ei a ti imediatamente. Adeus. Enquanto pensava no que fazer, Diamante viu avançar para ele um adolescente simpático, chamado Farah, que se tornou seu amigo na hora. Diamante contou-lhe o motivo de sua viagem. – Ó Diamante, disse o moço, saberás que o rei manda matar todo aquele, morador ou forasteiro, que pronuncia o nome cipreste ou pinha do pinheiro. Pois Cipreste é precisamente ele, e Pinha do Pinheiro é sua esposa. E somente ele conhece as relações que os ligam. Posso conduzir-te à presença dele. E como, decerto, conseguirás agradar-lhe, talvez desate o nó que te aflige. O rei gostou, de fato, de Diamante e prometeu satisfazer-lhe qualquer desejo. Mas quando Diamante formulou aquela pergunta, o rei entrou numa cólera terrível e pediu a Diamante para trocar esse pedido por qualquer outro, fosse a metade do reino. Diamante, porém, insistiu, e como o rei nunca renegava uma promessa feita, resignou-se a revelar um segredo que lhe era tão caro quanto a própria vida. Obedecendo às suas ordens, os guardas esvaziaram a sala e trouxeram um galgo preso por uma correia cravejada de pedrarias e uma adolescente radiante de beleza de mãos amarradas às costas, que ora chorava, ora sorria - suas lágrimas transformando-se em pérolas e seus sorrisos, em pétalas de rosas. Disse o rei: – Saberás, ó filho de Chams Xá, que esta adolescente amarrada se chama Pinha do Pinheiro e é minha esposa. E eu sou o rei Cipreste. Ela é filha de um rei. Casei-me com ela sob o efeito de uma louca paixão; depois, com a permissão de seus pais, viemos morar na minha cidade de Wakak. Certa noite, acordei e notei que, apesar do calor sufocante, minha mulher tinha as mãos e os pés gelados. Alarmado, perguntei-lhe se estava doente. Respondeu "não" com indiferença e alegou que uma ablução a deixara assim. Mas o caso se repetiu e senti-me tomado de graves suspeitas. No entanto, guardei essas suspeitas no cofre de meu coração e dei três voltas à chave do silêncio na porta da minha língua. Uma noite, fingi que estava dormindo e vi esta mulher de maldição levantar-se, furtiva como uma gata, despejar-me na boca uma taça de narcótico, que procurei não engolir. Confiante nos efeitos de sua malícia, e pensando que eu já estava anestesiado, colocou Kohl nas pálpebras, nardo no cabelo, pintou as sobrancelhas, perfumou-se, cobriu-se de jóias e desceu à cavalariça. Lá montou o melhor cavalo e partiu. Segui-a correndo, tendo por único companheiro este cão fiel, ora tropeçando, ora caindo e machucando-me. Finalmente, chegamos ao mesmo tempo a uma planície rasa onde só havia uma cabana de barro, habitada por sete negros. Minha mulher entrou na cabana e trancou a porta. Segui-a e espreitei pelo buraco da fechadura. E vi os sete negros caírem em cima dela quais sete búfalos, e vi-a responder às suas violências com suspiros de volúpia. Não podendo tolerar este espetáculo, forcei a porta e matei os sete negros abjetos. Depois amarrei Pinha do Pinheiro e trouxe-a para casa. Aí, tens, ó mancebo engenhoso, toda a história das minhas relações com Pinha do Pinheiro, que nenhum ouvido humano jamais ouvira antes de ti. Diamante agradeceu o rei Cipreste e beijou o chão aos seus pés e saiu do palácio aliviado e feliz. Foi despedir-se de Farah e subiu ao terraço, onde queimou um pelo da barba de As-Simurg. O gigante surgiu imediatamente, levou Diamante nas costas e atravessou com ele os sete mares de volta. Diamante foi diretamente à casa de Aziza, aquela cujas faces são como a flor da romãzeira, e os dois passaram horas entrelaçados. E tornaram-se marido e mulher. – Transporta-nos agora até a casa de tua sobrinha Camila, pediu Diamante ao gigante. O que foi feito num momento. Após os primeiros transportes de alegria, Diamante pediu a Aziza que o deixasse a sós com Camila por uma hora. Aziza atendeu de bom grado. Quando voltou, os dois já estavam casados. Para agradecer à vida tanta generosidade, decidiram todos juntos perdoar a Latifa e fazer dela a terceira esposa de Diamante. Foi então a vez de Ramo-de-Coral. O gigante levou Diamante e suas três mulheres ao palácio da Princesa. Diamante apresentou-lhes Ramo-de-Coral e elas acharam-na encantadora. Uma vez resolvidos todos os assuntos entre Diamante e suas quatro esposas, pensou-se no assunto principal, origem de tantas aventuras. Diamante foi então sozinho ao palácio onde estavam penduradas dezenas de cabeças de pretendentes infelizes e tocou o tambor para anunciar à princesa a chegada de um novo pretendente, prestes a dar a resposta certa ou a ter a cabeça cortada. O rei, pai da princesa, reconheceu Diamante e pediu-lhe que desistisse de uma tarefa que lhe custaria a vida. Mas Diamante assegurou-lhe que tinha a resposta certa. Deu a resposta, contando toda a história das relações do rei Cipreste com sua mulher Pinha do Pinheiro. O espanto e a alegria foram gerais. Mohra estava particularmente feliz. Casaram-se imediatamente e despediram-se do pai de Mohra, prometendo visitá-lo com freqüência e partiram com as quatro outras esposas de Diamante para o reino de Chams Xá onde foram recebidos com regozijos nunca vistos. E as cinco esposas deram a Diamante muitos filhos maravilhosos.
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