Valdir Aguilera
 Físico e pesquisador

 

 

As 1001 noites - Epílogo: na milésima segunda noite


Quando Xerazad concluiu a história da princesa Nur An-Nahar, sem iniciar imediatamente outra história, como vinha fazendo ao longo de mil e uma noites, o rei olhou-a com ar interrogativo. Ela levantou-se, beijou a terra diante dele e disse-lhe:

– Ó rei do tempo, inigualável em tua grandeza, eu sou na verdade tua escrava e te contei durante mil e uma noites histórias antigas repletas da experiência e da sabedoria das gerações. Ser-me-á permitido em contrapartida solicitar um favor de tua Majestade?

– Pede e serás atendida, disse o rei.

Com essa permissão, Xerazad chamou as amas e os eunucos e ordenou:

– Trazei os meninos.

Obedeceram. Os meninos eram três: um já andava, o segundo engatinhava e o terceiro ainda mamava. Xerazad colocou-os diante do soberano e disse:

– Ó rei do tempo, estes são teus filhos, e o favor que peço é para eles: não me mandes matar para que eles não se tornem órfãos e sejam entregues a servidores que não saberiam criá-los como uma mãe.

Estas palavras comoveram o rei até as lágrimas. Apertou os filhos contra seu coração e disse a Xerazad:

– Ó minha amada, eu já te poupei a vida antes mesmo de saber que me deste três filhos, porque és pura e leal. Que Alá te abençoe e a teus pais e tuas raízes. E que Ele seja testemunha de que tudo farei para afastar de ti qualquer mal e qualquer sofrimento. Sabes histórias maravilhosas, e há muito com elas me distraíte. Foi-se minha cólera, e é com prazer que retiro a cruel lei por mim imposta.

Xerazad beijou-lhe as mãos e os pés em sinal de gratidão e sentiu uma imensa alegria. E essa alegria ecoou em todo o palácio e transbordou sobre a cidade inteira.

Foi para todos uma noite única em seu esplendor. No dia seguinte, o rei acordou sorridente e feliz. Mandou vir o vizir pai de Xerazad e outorgou-lhe, na presença de toda a corte, uma suntuosa veste honorífica, dizendo-lhe:

– Possa Alá proteger-te por me teres casado com tua generosa filha. Foi ela que me levou a arrepender-me de meus crimes passados e a desistir de matar as filhas de meus súditos. Ademais, ela me deu três filhos varões.

Depois, o rei ofereceu brindes valiosos a todos os presentes e mandou distribuir esmolas aos órfãos, às viúvas e aos necessitados. E ele e seu povo viveram na prosperidade e na alegria até que foram visitados pelo apagador das felicidades e o separador de parentes e amigos. Glória Àquele que escapa das vicissitudes do tempo e vive de eternidade em eternidade. E bênçãos e paz sobre o mensageiro de Alá, o eleito entre todas as criaturas, nosso senhor Maomé, por intermédio do qual solicitamos a Deus um fim feliz.

De "Epílogo: na milésima segunda noite" para "Biblioteca"

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