As 1001 noites - Epílogo: na milésima segunda noite
Quando Xerazad concluiu a história da princesa Nur An-Nahar, sem iniciar
imediatamente outra história, como vinha fazendo ao longo de mil e uma noites, o rei
olhou-a com ar interrogativo. Ela levantou-se, beijou a terra diante dele e disse-lhe:
– Ó rei do tempo, inigualável em tua grandeza, eu sou na verdade tua escrava
e te contei durante mil e uma noites histórias antigas repletas da experiência e da sabedoria
das gerações. Ser-me-á permitido em contrapartida solicitar um favor de tua
Majestade?
– Pede e serás atendida, disse o rei.
Com essa permissão, Xerazad chamou as amas e os eunucos e ordenou:
– Trazei os meninos.
Obedeceram. Os meninos eram três: um já andava, o segundo engatinhava e o terceiro ainda mamava. Xerazad
colocou-os diante do soberano e disse:
– Ó rei do tempo, estes são teus filhos, e o favor que peço é para eles: não me mandes
matar para que eles não se tornem órfãos e sejam entregues a servidores que não saberiam criá-los
como uma mãe.
Estas palavras comoveram o rei até as lágrimas. Apertou os filhos contra seu coração e disse a Xerazad:
– Ó minha amada, eu já te poupei a vida antes mesmo de saber que me deste três filhos, porque
és pura e leal. Que Alá te abençoe e a teus pais e tuas raízes. E que Ele seja testemunha de que tudo
farei para afastar de ti qualquer mal e qualquer sofrimento. Sabes histórias maravilhosas, e há muito com elas me
distraíte. Foi-se minha cólera, e é com prazer que retiro a cruel lei por mim imposta.
Xerazad beijou-lhe as mãos e os pés em sinal de gratidão e sentiu uma imensa alegria. E essa alegria
ecoou em todo o palácio e transbordou sobre a cidade inteira.
Foi para todos uma noite única em seu esplendor. No dia seguinte, o rei acordou sorridente e feliz.
Mandou vir o vizir pai de Xerazad e outorgou-lhe, na presença de toda a corte, uma suntuosa veste
honorífica, dizendo-lhe:
– Possa Alá proteger-te por me teres casado com tua generosa filha. Foi ela que
me levou a arrepender-me de meus crimes passados e a desistir de matar as filhas de meus súditos.
Ademais, ela me deu três filhos varões.
Depois, o rei ofereceu brindes valiosos a todos os presentes e
mandou distribuir esmolas aos órfãos, às viúvas e aos necessitados. E ele e seu povo viveram
na prosperidade e na alegria até que foram visitados pelo apagador das felicidades e o separador
de parentes e amigos. Glória Àquele que escapa das vicissitudes do tempo e vive de eternidade em eternidade. E
bênçãos e paz sobre o mensageiro de Alá, o eleito entre todas as criaturas, nosso senhor Maomé, por
intermédio do qual solicitamos a Deus um fim feliz.
De "Epílogo: na milésima segunda noite" para "Biblioteca"
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