Valdir Aguilera
 Físico e pesquisador

 

 

História do racionalismo - 03
O homem primitivo já sabia que somente
o corpo se acaba

José Alves Martins

No processo de evolução universal, os próprios mundos evoluem, diafanizando-se com o passar das eras ou milênios. Quanto mais diáfano se torna um mundo-escola, mais elevado é o nível de espiritualidade que passa a prevalecer nesse planeta, em virtude do elevado grau de evolução de seus habitantes e do banimento dos espíritos recalcitrantes e empedernidos na senda do crime, da maldade, da violência, do ódio e do fanatismo criminoso, que não mais voltam a encarnar ali. Passam a encarnar, sim, em planetas atrasados e selvagens, como era a Terra em seus tempos pré-históricos, nos primórdios da espécie humana.

De fato, no período paleolítico, também chamado da pedra lascada, a Terra teria sido um planeta penitenciário e de degredo para esses indivíduos retardatários no caminho da espiritualidade, a fim de que pudessem depurar – se e resgatar suas pesadas dívidas espirituais.

No entanto, a esses "degredados", obviamente de intelecto superior ao dos broncos trogloditas que com eles formaram os primeiros grupamentos humanos na idade da pedra, se devem, certamente, muitas das invenções e descobertas do Paleolítico, que contribuíram, inclusive, para garantir a sobrevivência do homem primitivo, já citadas no artigo anterior. Mencionem-se, ainda, os desenhos e pinturas daquela época encontrados nas paredes das cavernas que serviam de habitação aos nossos longínquos antepassados.

Esses famosos desenhos e pinturas, chamados rupestres (feitos na rocha), mostram que seus autores dominavam as técnicas dessa arte, sendo alguns desses trabalhos considerados obras-primas, comparáveis às dos grandes pintores de nossa era. H. G. Wells, em sua História Universal, de fato reconhece que "o homem desse período era muito inteligente e semelhante a nós".

Além disso, é sabido que muitos desses espíritos encarnavam munidos das faculdades mediúnicas de vidência, intuitiva e auditiva, o que, sem dúvida, lançou muita luz no processo mental que levou o homem primitivo a reconhecer a realidade espiritual e a continuidade da vida após a morte do corpo.

Segundo os estudiosos, o modo pelo qual se chegou, naqueles tempos remotos, à crença na vida de além-túmulo e se descobriu a realidade do mundo espiritual, invisível aos olhos humanos, é assunto de grande controvérsia, mas a teoria mais aceita é a seguinte:

"O homem primitivo via sua sombra na água; via a imagem de seus amigos nos sonhos; parecia-lhe que as pessoas possuíam dois corpos: o corpo palpável e o corpo-sombra, que só aparecia em ocasiões especiais, ficando escondido todo o resto do tempo. Quando alguém morria, seu corpo era sepultado na terra; seu segundo corpo, porém, o corpo-sombra, continuava a visitá-los em sonhos (ou em outras ocasiões a pessoas que tinham mediunidade de vidência). O corpo-sombra devia, portanto, ainda estar vivo em alguma parte."

Sabe-se, no entanto, com base em dados da própria ciência, que a inconformidade com a hipótese de que a morte pudesse significar sua total destruição tem sido um sentimento inato ao homem em todos os tempos e lugares.

De fato, de acordo com os estudiosos, indícios em numerosas sepulturas encontradas nos territórios ocupados pelos nossos ancestrais do Paleolítico nos autorizam a acreditar que "o homem começou a se distinguir das demais espécies do planeta quando se recusou a aceitar a idéia do próprio aniquilamento, talvez mais energicamente do que nós".

Segundo conceituado pesquisador, os monumentos sepulcrais guardando restos de homens pré-históricos "constituem indestrutível documentário da crença do troglodita do período quaternário no superior e imortal". "Quando nos propomos", diz um historiador da filosofia, "estudar a história do pensamento, imperioso se torna prestar atenção aos mais vetustos monumentos com os quais o homem, há cerca de 100 mil ou 200 mil anos, fixou, indestrutivelmente, para a posteridade, sua crença na vida de além-túmulo".

O ser humano conserva no íntimo a percepção intuitiva de sua condição de espírito e a consciência instintiva do mundo invisível ou espiritual. Quando o homem primitivo, auxiliado por suas faculdades mediúnicas, se apercebeu da sobrevivência e eternidade da alma, brotou também na sua mente o gérmen da filosofia, ou seja, a preocupação inata ao espírito encarnado de responder a essas questões fundamentais: de onde viemos, quem somos e para onde vamos?

Como se pôde ver e como repete sempre o Racionalismo Cristão, os ensinamentos da filosofia espiritualista são, realmente, tão antigos quanto o mundo.

No entanto, é importante destacar um aspecto do Paleolítico que bem demonstra a verdade do que ensinava Luiz de Mattos: segundo afirma, o estudo e a investigação dos princípios espiritualistas são assuntos pertinentes à esfera da ciência e da filosofia, nada tendo a ver com religião e suas práticas místicas. Ou seja, trata-se de conceitos que não se devem misturar ou confundir.

Com efeito, num surpreendente iluminismo "avant la lettre", o homem desse período não praticava qualquer espécie de culto ou religião. Ao que tudo indica, ainda não se deixara envolver ou contaminar por sentimentos de natureza mística e religiosa. Os próprios desenhos e pinturas do período em questão, aos quais já nos referimos, não denotam, como diz o já citado historiador, que tenham sido destinados a alguma espécie de culto. "Nada existe nessas produções que possa ser interpretado como símbolo místico ou religioso", observa ainda esse autor.

(Publicado originalmente no jornal A Razão, de junho de 2006, www.arazao.com.br)


 

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