História do racionalismo - 04
Totemismo e Animismo
José Alves Martins
No animismo vamos encontrar a crença na antevidência, na sobrevivência e na reencarnação do espírito.
De acordo com a etnologia, ramo da antropologia, o totemismo e o animismo constituíram etapas evolutivas que se seguiram ao estágio no qual o homem primitivo, conforme mostramos em artigo anterior, chegara à conclusão de que a morte não interrompe a vida e descobrira a realidade do mundo invisível, ou espiritual.
Em sua definição mais corriqueira e superficial, resultante de um olhar menos atento na análise do assunto, totem seria "um símbolo sagrado (planta, animal ou mesmo um objeto) de um clã ou tribo, considerado como seu ancestral ou divindade protetora"; e totemismo, "a religião que mantém unido esse clã em torno do totem".
Entretanto, pela ótica de pesquisadores que investigaram mais a fundo essa instituição de cunho social e espiritual dos primitivos agrupamentos humanos, estes reverenciavam no totem, fosse um ser vivo ou coisa, não sua aparência material, e sim a força invisível nele presente, que, na verdade, outra coisa não seria que a Força Universal de que trata o Racionalismo Cristão. É o que o leitor poderá constatar pelo que exporemos a seguir, com base no testemunho desses estudiosos.
Ensinam eles que uma das idéias na qual se estriba o totemismo é a de que "o homem pode não só entrar em relação com o mundo invisível ou espiritual, mas também travar com ele pacto de aliança, válido para si e para a posteridade".
De acordo com Émile Durkheim, o totemismo não é uma espécie de culto a árvores, animais ou objetos, mas a crença numa força anônima e impessoal (o verdadeiro totem) que se encontra em cada um desses entes. Ela é independente do objeto ou do corpo em que encarna, pois a eles precede e sobrevive. "É um Deus impessoal, sem nome, sem história (que não teve princípio e que não terá fim), imanente ao mundo, difundido numa multidão inumerável de seres. O animal ou coisa no culto totêmico não é mais que a forma ou aparência material sob a qual, acredita o homem primitivo, se encontra essa substância imaterial, essa força difusa através da heterogeneidade dos seres."
É essa Força ou alma do mundo o verdadeiro alvo de sua reverência e respeito.
Também não falta ao totemismo o conceito da reencarnação. Para o homem desse período pré-histórico, conforme Felicien Challaye, "cada nascimento significa o reaparecimento da alma de um ancestral num corpo novo. Na morte, ela volta ao país das almas, e depois torna a encarnar".
Ainda sobre essa doutrina primitiva, informam Émile Durkheim e Felicien Challaye que as almas são o totem (mana ou força) parcelado; e, assim, a alma outra coisa não é que o princípio totêmico encarnado em cada indivíduo.
Quanto ao animismo, pode-se dizer que, na verdade, pouco difere, em seus conceitos espiritualistas, do totemismo. O termo foi criado por E.B. Tylor, estudioso dessa filosofia de imemorial antiguidade, dada a conhecer, assim como o totemismo, ao homem primitivo.
No animismo vamos encontrar também a crença na antevivência, na sobrevivência e na reencarnação do espírito, bem como um sentimento reverencial ou respeitosa consideração pelos espíritos, o que significaria, talvez, uma estranha combinação de confiança e medo, identificando-se, ainda, em certas práticas animistas, uma espécie de espiritismo rudimentar.
Porém a idéia essencial que define essa filosofia primitiva é a concepção segundo a qual almas ou espíritos animam todas as coisas (vivas ou inertes) do Universo.
É no totemismo e no animismo, portanto, que vamos encontrar a semente de um conceito filosófico-espiritualista que seria desenvolvido, em épocas posteriores, pelos grandes filósofos e pensadores da humanidade (incluindo Jesus: 'Vós sois deuses') e que recebeu, através dos tempos, as mais diversas denominações, tais como panteísmo, pantiteísmo, panenteísmo, pampsiquismo etc.
Conceito esse finalmente apresentado de maneira magistral, decisiva e com clareza meridiana por Luiz de Mattos, nos capítulos Força e Matéria e Grande Foco do livro Racionalismo Cristão.
(Publicado originalmente no jornal A Razão, de julho de 2006, www.arazao.com.br)
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