Valdir Aguilera
 Físico e pesquisador

 

 

História do racionalismo - 08
Filósofos gregos e Jesus Cristo
nos templos do antigo Egito

José Alves Martins

Um passo atrás na espiritualidade

Ao entrar na proto-história, período da vivência humana em que tem início o uso dos metais, a humanidade se apresenta como idólatra e politeísta. Deparamos aí, certamente, com um retrocesso em relação à Pré-história.

Com efeito, como já mencionado em artigo anterior, o totemismo e o animismo do homem pré-histórico são uma demonstração de sua crença na realidade de uma força, ou mana, que anima e vivifica toda a natureza, que antevive e sobrevive ao homem, às coisas e aos animais a que se integra.

A crença na existência desse "princípio eterno, gerador do Universo", e outros avançados conhecimentos, surpreendentes em uma sociedade tão primitiva, levaram estudiosos a concluir que teriam sido transmitidos ao homem pré-histórico por uma fonte externa, como vimos também em artigos anteriores.

Esse período histórico abrange, mais ou menos, os anos de 4200 a 600 antes de Cristo. Nele, repita-se, a humanidade deu um passo atrás em sua espiritualidade, ignorando esses conhecimentos transcendentes, de ordem espiritualista, deixando-nos até mesmo sérias dúvidas de que ainda mantivesse as convicções de seus antepassados pré-históricos relativas à imortalidade da alma. Incluem-se nesse estágio de civilização povos como os do Egito, Suméria, Acádia, Egéia (civilização pré-helênica), Babilônia, Canaã, Síria e Índia, entre outros.

No entanto, enquanto o povo em geral, nessas diversas civilizações, se entregava a um viver hedonista, à idolatria e ao politeísmo, numa época obscurantista, uma fechada elite sacerdotal preservava para a humanidade o antiqüíssimo legado de conhecimentos espirituais, filosóficos e científicos transmitido ao homem desde as mais remotas eras por seres espaciais, hipótese admitida pela própria ciência.

No campo do psiquismo, por exemplo, constata-se que o Deus dos sacerdotes egípcios do período em questão, ao contrário da politeísta e materialona mentalidade popular de então, é um ser único, perfeito, transcendental, dotado de ciência e inteligência infinitas, estando a compreensão de sua natureza além do limitado entendimento do ser humano. "Ele é 'o único', o que existe 'por essência', 'vivendo em substância', o único gerador no céu e na terra que não foi gerado. Sempre igual, sempre imutável na sua indestrutível perfeição, sempre presente assim no passado como no futuro, ele enche todo o universo, sem que imagem alguma no mundo possa dar uma tênue idéia de sua imensidão; pode ser sentido em toda parte, mas não é visto em lugar nenhum."

Hermes Trimegisto (três vezes grande), que viveu nesse amanhecer da Antiguidade, no Alto Egito, vários mil anos antes de Cristo, assim definiu esse Princípio Eterno: "A Inteligência Universal é a única Força criadora do Universo, sendo seus atributos a imensidade, a eternidade, a independência, a vontade todo-poderosa, a bondade sem limites...".

Esse mestre e os continuadores da tradição hermética nos templos egípcios ensinavam ser a alma imortal e que ela reencarna muitas vezes neste mundo. "As almas pouco evoluídas ficam ligadas à Terra por múltiplos renascimentos; porém as almas virtuosas se elevam às esferas superiores, onde recobram a visão das coisas reais, nas quais se impregnam com a luz da consciência iluminada pela dor, com a energia da vontade adquirida na luta. Fazem-se luminosas, pois que possuem a luz em si mesmas e irradiam essa luz em seus atos."

Segundo ainda esses iniciados egípcios, o ser humano é constituído, além do corpo físico, de mais dois elementos: o "ka" e o "ba". "O ka é a alma inferior, o princípio vital, o duplo etéreo do homem. O ba é a alma superior, o espírito imortal." (Convenhamos que os princípios divulgados, hoje, pelo Racionalismo Cristão têm, de fato, origem antiqüíssima. Ou melhor, são eternos.)

Os antigos egípcios detinham, ainda, muitos outros conhecimentos, de ordem científica. Limitemo-nos, porém, a dizer, para surpresa do leitor, que eles conheciam, 2 mil anos antes de Cristo, a providencial penicilina, que veio a ser redescoberta por Fleming no século XX e tem salvo muitas vidas, incluindo a de seu querido amigo e grande estadista inglês Winston Churchill.

Não há dúvida de que também os valiosos conhecimentos cultivados nos templos do antigo Egito exerceram importante influência sobre os filósofos gregos e até mesmo, tempos depois, sobre Jesus - fundador, com aqueles, da civilização ocidental.

Sabe-se que os cientistas e pensadores da Grécia antiga, em suas viagens para conhecer outras culturas e civilizações, tiveram contato com os sacerdotes e iniciados dos templos egípcios, e deles teriam colhido conhecimentos de matemática, medicina, astronomia e de outras áreas do saber que, transplantados para o solo caracteristicamente racionalista do pensamento grego, contribuíram para fazer florescer e produzir o monumental patrimônio filosófico e científico da civilização helênica. Ficando apenas num exemplo, citemos uma das principais referências da filosofia grega, Platão, que teria encontrado nos ensinamentos de Hermes Trimegisto a fonte de inspiração para sua Teoria das Idéias.

Quanto a Jesus, haveria indícios, segundo acadêmicos da moderna pesquisa histórica a respeito da vida do Mestre Nazareno, de que também ele teria estagiado num desses templos egípcios antes de começar a divulgar seus ensinamentos na Palestina.

(Publicado originalmente no jornal A Razão, de novembro de 2006, www.arazao.com.br)


 

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