História do racionalismo - 14
O fim da religião
José Alves Martins
As leis naturais não deixam espaço para o sobrenatural – crenças e dogmas
Libertar a humanidade do sobrenaturalismo e, portanto, da religião, tem sido um dos objetivos principais do racionalismo, movimento que deita raízes em idades remotas, como a época de que vimos nos ocupando em artigos anteriores – o século VI antes de Cristo.
É nesse alvorecer da história que se registra uma das primeiras e marcantes manifestações do racionalismo histórico contra o mito, a superstição, o "sobrenatural" e todo o séquito de crenças e dogmas religiosos.
Assim, voltamos a lembrar, temos nesse período histórico, entre os judeus, Ezequiel e Jeremias, dois dos chamados grandes profetas hebreus; na Jônia, colônia grega, os precursores da filosofia helênica, mencionados, de passagem, no artigo anterior; na Índia, Jaina Vardhamana e Buda Gautama, fundadores, respectivamente, do jainismo e do budismo; na China, Lao-Tsé, mestre maior do taoísmo, e Confúcio, que lançou as idéias básicas do confucionismo, personagem de que falaremos na próxima edição.
Não obstante o mau uso do livre-arbítrio da parte dos seres humanos, a História segue, em suas linhas gerais, um roteiro escrito nas estrelas. Para pôr em execução as etapas desse plano preestabelecido nas elevadas esferas do Astral Superior, têm encarnado, ao longo dos séculos, grandes espíritos com a missão de transmitir à humanidade a parcela de ensinamentos contidos na Verdade absoluta e que estão ao alcance da compreensão humana.
Conhecereis a Verdade e ela vos libertará, disse Jesus. Referia-se, certamente, ao avanço das ciências, incluindo a ciência psíquica, que trata da realidade espiritual e dos princípios morais e éticos.
Afirmam o Racionalismo Cristão e a própria ciência que o Universo é regido por leis comuns e naturais e que a elas tudo está sujeito. Dentro dessa ordem universal não há lugar, portanto, para o sobrenatural, o que nos leva a concluir que as crenças e dogmas religiosos se fundamentam numa ficção. Assim, de acordo com esse plano do Astral Superior, de promover o conhecimento da Verdade no planeta, a História caminha para o fim da religião, embora, ao que parece, num futuro ainda distante.
Quanto à civilização ocidental, cedo ou tarde, poderá ser abalada por um tsunami de ordem moral e religiosa. Com efeito, torna-se cada vez mais freqüente a descoberta de manuscritos, evangelhos gnósticos e outros documentos e provas relativos às diversas e conflitantes correntes do cristianismo primitivo, os quais têm levado a questionamentos sobre os dogmas que fundamentam a fé cristã.
Segundo especialistas em história das religiões e do Novo Testamento, o maior e mais secreto temor da Igreja é que surjam provas que irrevogavelmente forcem a separação entre o Jesus histórico e o Jesus da fé – o Cristo mitológico – revelando, assim, que o Vaticano e as numerosas denominações cristãs se assentam sobre uma fraude. E esses pesquisadores estão absolutamente convencidos de que essas provas com certeza surgirão. Seria apenas uma questão de tempo.
A propósito, eis a opinião de um legítimo herdeiro do racionalismo iluminista, o filósofo Emanuel Kant: "Se espremermos a religião, o que sobra é a moralidade". Observa, porém, que "o homem pode chegar à moralidade guiado apenas pela razão", prescindindo, portanto, da fé religiosa.
A esse respeito, assim se expressou a vigorosa e combativa pena racionalista de Luiz de Mattos:
"Grandes espíritos, movidos por ideais reformadores, baixaram à Terra, encarnando com enorme sacrifício, para se empenhar na desbrutalização da mente humana, que se encaminhara, materializada, pelas veredas do erro e da sensualidade; mas, além de não terem sido compreendidos, ainda acabaram divinizados pela massa ignara, como aconteceu a Jesus, Buda, Confúcio e outros. O dever do homem é ser honrado, é ter caráter, é ser trabalhador e cumpridor de suas obrigações; é conhecer-se a si mesmo; é saber dar exemplos de conduta moral e de valor. Todas essas qualidades podem ser cultivadas pelo ser humano sem o apoio desta ou daquela religião."
(Publicado originalmente no jornal A Razão, de maio de 2007, www.arazao.com.br)
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