História do racionalismo - 28
Os sete sábios da Grécia
José Alves Martins
Homens de Estado que meditavam, principalmente, sobre como reger e governar
Diz a lenda que, certo dia, alguns pescadores de Mileto encontraram uma trípode de ouro (vaso precioso que
se consagrava aos deuses ou se concedia como prêmio ao vencedor de jogos públicos) e que o oráculo de Delfos,
consultado sobre ela, ordenou que a entregassem ao mais sábio dos homens. Ela então foi oferecida a
Tales de Mileto, mas este declinou da honra, afirmando que havia outros mais sábios do que ele.
Mesma atitude foi adotada pelos demais aos quais também foi oferecida a trípode. Até que, ao chegar
a vez de Sólon, este a ofertou ao deus Apolo, querendo com isso dizer que só um deus podia ser
considerado sábio.
Assim como essa, muitas outras lendas foram criadas em torno dos sete sábios da Grécia, homens
de grande prestígio e influência na época em que viveram, ou seja, o período compreendido nos
séculos VII e VI antes de Cristo.
A fama de sua sabedoria era tal no mundo grego que a maioria das máximas e preceitos conhecidos
por todos era a eles atribuída, chegando algumas dessas sentenças a ser inscritas nas paredes
do templo de Apolo, em Delfos.
Tales de Mileto, considerado o primeiro filósofo grego, é citado também entre os sete sábios,
o que pode sugerir um nexo entre esses sábios e os fundadores da filosofia.
Como se viu, essa plêiade de sábios situa-se historicamente na passagem do século VII para o VI
antes de Cristo. Nesse período, as cidades gregas vivem clima de tensão. Paira no ar perigo
iminente de dissolução social. É nesse cenário de tensão e de perigo que esses homens surgem e se impõem.
Excesso de AMBIÇÃO. Sensíveis às ameaças de caos social, observa um historiador, eles preconizavam
uma norma de vida que expressasse a justa medida entre o excesso de ambição e prepotência dos ricos
proprietários, donos também do poder, e o excesso ao qual também estavam tentados os segmentos colocados
à margem da vida da pólis aristocrática. Excesso que levaria à subversão da ordem estabelecida, acrescenta
ele. Foi essa a problemática vivenciada e pensada pelos sábios.
Sua sabedoria, no entanto, nada tem a ver com o conhecimento das "coisas divinas". Concentra-se
tão-somente na preocupação com a vida em sociedade. À semelhança da filosofia, suas sentenças também
se fundamentam no pressuposto da existência de uma ordem racional, situada acima dos caprichos dos indivíduos.
"Não é mais a sabedoria religiosa dos videntes ou sacerdotes. Trata-se de uma sabedoria ético-política,
baseada no bom senso, na capacidade de intuir a gravidade do momento histórico e de apontar caminhos que
se revelem claros e razoáveis. No entanto, não se trata ainda de filosofia, que implica questionamentos,
crítica, avaliação de razões, afirmações e conclusões justificadas", observa ainda aquele estudioso.
Não há consenso a respeito da lista dos sete sábios. Da relação de Platão (428-348 a.C.), constam:
Tales de Mileto (640-546 a.C.), astrônomo, matemático, filósofo e estadista; Pítaco de Mitilene (
650-569 a.C.), famoso por sua feiúra física, foi tirano durante muitos anos dessa cidade;
Sólon de Atenas (640-558 a.C.), estadista e legislador, autor da lei que libertou da servidão
os cidadãos atenienses escravizados por dívidas, e poeta lírico (compôs principalmente elegias
morais e filosóficas); Cleóbulo de Lindos (século VII a.C.), autor de mais de 3 mil poesias e
logogrifos, inclusive o epitáfio de Midas (atribuído também a Homero); Periandro de Corinto (627-584 a.C.),
tirano dessa cidade; Bias de Priene (século VI a.C.), poeta e orador eloqüente, ganhou fama com as defesas
feitas diante dos juízes de sua cidade, em favor de amigos; e Quílon de Esparta (século VI a.C.),
poeta e um dos mais poderosos éforos dessa cidade. (Éforo era o nome dado a cada um dos cinco
magistrados eleitos em Esparta, na Grécia antiga, para representar a aristocracia e contrabalançar a
autoridade do rei e do senado.)
Os sete sábios, em sua maioria, como se viu, homens de Estado, meditavam principalmente sobre
como reger e governar a sociedade humana. "Com frases curtas e lapidares", informa o historiador,
"emitiam sentenças que calavam fundo na alma de seus contemporâneos, levando à reflexão e convidando à
tomada de decisão."
Segundo o historiador, eis algumas delas:
Conhece-te a ti mesmo; olha o fim; conhece o tempo oportuno; o que é em excesso é mau: a virtude
está no meio; nada melhor do que a moderação; modesto na prosperidade, forte na adversidade;
tudo é possível para quem empreende (o homem se agita, e a humanidade o conduz); prometa quando
o perigo for iminente; escuta muito e fala pouco.
(Publicado originalmente no jornal A Razão, de julho de 2008, www.arazao.com.br)
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