Anaxímenes e as supercordas
José Alves Martins
Terceiro membro da escola de Mileto foi precursor da teoria das supercordas
Anaxímenes, natural de Mileto, viveu, aproximadamente, entre 585 e 524 antes de Cristo. É o terceiro e último membro da escola de Mileto, formada, além dele, por Tales (624-546 a.C.) e Anaximandro (610-546 a.C.), seus predecessores. Com esses três primeiros filósofos, teve início, no século VI a.C., como já se disse, o racionalismo grego, cerca de cem anos antes do aparecimento de Sócrates, Platão e Aristóteles.
Companheiro e discípulo de Anaximandro, Anaxímenes, ao que parece, conheceu também Parmênides e, com toda a certeza, Pitágoras, que, como os demais pensadores pré-socráticos, deram seqüência ao pensamento racional e científico inaugurado pelo trio de Mileto.
Anaxímenes, segundo cronistas da época, seria uns 22 anos mais moço que Anaximandro. Embora hoje ocorra o contrário, foi mais admirado, na Antiguidade, que seu mestre, tendo exercido grande influência sobre Pitágoras, seu amigo e discípulo, bem como sobre as especulações filosóficas posteriores.
Até o começo do século VI a.C., quando foi subjugada por Dario, rei da Pérsia, a Jônia era, culturalmente, a parte mais importante do mundo grego. Nessa região se localizavam as cidades de Mileto – berço da filosofia – e Samos, terra natal de Pitágoras. Foi nessa época conturbada e de declínio comercial e cultural a que havia chegado a Jônia que nasceu e viveu Anaxímenes.
CARTAS. Bem ilustrativas desse período de decadência são as cartas que ele escreveu para Pitágoras, constantes da obra Vidas, Doutrinas e Sentenças de Filósofos Ilustres, do escritor grego Diógenes Laércio (século III d.C.). Transcrevemos a seguir uma dessas cartas:
"Pareceu-me muito acertado, dileto amigo, que tenhas te mudado de Samos para Crotona (sul da Itália), em busca de um viver tranqüilo, pois aqui os filhos de Éaco e outros agem muito mal, e aos milésios (habitantes de Mileto) nunca faltam tiranos. Para nós, filhos da Jônia, no entanto, não menos temível é o rei da Pérsia, se nos recusamos a ele nos submeter e lhe pagar tributos. Aliás, parece que os jônios pretendem lutar contra os persas para reconquistar a liberdade. Se houver guerra, não me restará esperança de salvar-me.
Com efeito, como poderá Anaxímenes dedicar-se a suas investigações científicas e filosóficas temendo a cada momento a morte ou o cativeiro? Quanto a ti, querido amigo Pitágoras, sei que és muito estimado pelo povo de Crotona e demais italianos e que tampouco te faltam amigos na Sicília."
Assim como Anaximandro, Anaxímenes também escreveu um livro, intitulado Sobre a Natureza (provavelmente o segundo texto em prosa da História; o primeiro foi o de Anaximandro), no qual expõe, em resumo, seus ensinamentos filosóficos e científicos. Infelizmente, essa obra, como a de seu mestre, se perdeu, dela restando apenas citações em livros de autores antigos.
Anaxímenes dizia que tudo provém do Ar e retorna ao Ar, significando esse "Ar" a matéria em sua forma original, indivisível e fundamental – também denominada matéria fluídica –, que assume diferentes estados e formas. Ou seja, "a variação quantitativa de tensão da realidade primária dá origem a todas as coisas".
Esse ensinamento do filósofo, constatam os estudiosos, assemelha-se muito à teoria das supercordas da ciência moderna. Assim ele a teria antecipado em muitos séculos, embora empregando expressões e imagens diferentes das utilizadas pelos físicos da atualidade.
O estudo da teoria das supercordas, iniciado na década de 1960, com a participação de vários cientistas, se propõe a unificar toda a física e unir a Teoria da Relatividade e a Teoria Quântica numa única estrutura matemática. Embora ainda não consolidada, a teoria mostra promissores sinais de vir a ser comprovada como verdade científica, o que confirmará o acerto das afirmações de Anaxímenes.
(Publicado originalmente no jornal A Razão, de novembro de 2008, www.arazao.com.br)
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