Physis e a razão
José Alves Martins
O leitor deve ter notado que a preocupação predominante dos primeiros filósofos era descobrir a origem do mundo, isto é, da natureza, do cosmo, da "physis", razão por que foram chamados por Aristóteles de físicos ou fisiólogos. Costuma-se, por isso, também dar o nome de período cosmológico a essa fase do racionalismo grego.
É claro que, ao chamar de "físicos" os referidos filósofos, Aristóteles não estava conferindo ao termo o sentido que lhe damos hoje, pois a palavra, em grego, tem sentido mais amplo e rico.
A "physis", "matéria infinita e eterna, que constitui a gênese (origem) e o fundamento de todas as coisas", não era concebida pelos pensadores gregos como dissociada da Alma Universal, Razão Universal ou Logos. Recorde-se, a propósito, a afirmação de Tales: "Tudo está cheio de deuses" (partículas da Força).
Como tema preeminente e prioritário dos pré-socráticos, a "physis" se impõe, com suas razões, à razão desses primeiros filósofos, que compreendem que o homem, como tudo o mais, está sujeito a essa ordem, da qual faz parte e que o transcende. Assim, ao eleger como principal preocupação a explicação dos aspectos referentes à cosmologia, eles tiveram papel importante, uma vez que marcaram toda uma fase de pensamento voltada para a explicação racional dos fenômenos que constituíam as inquietações dos homens daquela e de todas as épocas.
Tal preocupação, que preponderou no século VI antes de Cristo, continuou no século V, com Anaxágoras (500-428 a.C), Empédocles (493-430 a.C), Leucipo e Demócrito (460-370).
É importante notar que a originalidade dos primeiros filósofos gregos está no fato de terem procurado a compreensão dessa realidade (a composição do Universo como Força e Matéria) não na tradição sobrenaturalista, mítica ou religiosa, mas na força explicativa da razão. O pensador grego foi, desde sempre e antes de tudo, um racionalista. Acreditava que essa realidade tem uma ordem racional, natural e inteligível.
O racionalismo grego faz parte, sem dúvida, de um projeto de origens remotas na história do mundo, preestabelecido, certamente, em planos cósmicos superiores e confiado a uma estirpe de grandes espíritos, vindos ao planeta com a missão de preparar a humanidade para um mundo sem religião, baseado na ciência.
A palavra ciência, nesse caso, deve ser tomada no seu sentido amplo, de conhecimento da verdade, como a definiu Luiz de Mattos. Este, tendo sido livre pensador, reuniu, por essa e por outras qualidades, condições de vir a ser o codificador do Racionalismo Cristão, doutrina de cunho filosófico e científico, sem ranço místico ou religioso.
Os princípios dessa filosofia espiritualista fundamentam-se, como seu próprio nome indica, nos ensinamentos de Jesus, também denominado Cristo. Esse evoluidíssimo mestre foi fundador, na verdade, não de uma Igreja, mas da civilização ocidental. Assim sendo, cumpre incluir entre seus maiores e legítimos discípulos não seus místicos adoradores, mas os grandes e verdadeiros representantes da filosofia, da ciência e das artes, sejam eles cristãos ou não.
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