Valdir Aguilera
 Físico e pesquisador

 

 

Reprodutibilidade, um dogma da ciência

Valdir Aguilera

Em poucas palavras, reprodutibilidade é a qualidade que se atribui a um fenômeno quando ele pode ser reproduzido. Para a ciência, essa qualidade é essencial para que o fenômeno possa alcançar o status de científico. Os cientistas exigem que seja possível reproduzir, por pesquisadores independentes, qualquer fenômeno que tenha sido relatado. Caso contrário o relato é simplesmente deixado de lado, ou mesmo desprezado. Contudo, há situações importantes que requerem um afrouxamento dessa exigência.

Condição R&R

A ciência surgiu quando se passou a incluir em suas teorias a necessidade da observação, de se fazer experiências. Nesse momento, ela se desligou da filosofia e passou a ter sua própria personalidade.

A reprodutibilidade é um dos cânones da ciência. Se um fenômeno não pode ser reproduzido, ele não se torna cientificamente aceito ou comprovado. Na verdade, a ciência é mais exigente. Para que um resultado seja agraciado com o título de científico, ele tem de satisfazer a "condição R&R", isto é, ter a qualidade de reprodutibilidade e repetibilidade. Isto quer dizer que a confirmação de um resultado deve ser obtida por repetição da experiência usando-se amostragens diferentes, e reprodução utilizando-se diferentes amostragens e diferentes equipamentos.

Compreende-se que o método científico deva impor a condição R&R, pois ela permite eliminar tendenciosidades ou erros humanos que possam afetar o resultado de uma experiência. Quantos resultados foram relatados e depois se verificou que a experiência foi mal planejada e pior executada! Poucas décadas atrás um físico norte-americano publicou um trabalho anunciando ter detectado ondas gravitacionais em uma experiência por ele preparada e realizada. Imediatamente outros físicos, em vários laboratórios daquele país e de outras partes do mundo, tentaram reproduzir a experiência. Todas elas deram resultado negativo, isto é, as alegadas ondas gravitacionais não foram detectadas. Nem mesmo o autor da experiência original foi capaz de repeti-la com o resultado anunciado anteriormente. Em conseqüência, as ondas gravitacionais não têm existência cientificamente comprovada, embora haja evidências de que existam. A busca dessas ondas ainda continua - inclusive na USP, São Paulo, onde há um aparelho projetado e construído especificamente para esse fim -, pois sua existência é prevista pela respeitável Teoria da Gravitação, de Einstein.

Probabilidades

Voltando à questão da reprodutibilidade, a ciência também aceita como sendo reprodutíveis os resultados obtidos em uma experiência e que tenham a seu favor uma probabilidade teórica de ocorrer numa outra realização da mesma experiência. Em outras palavras, há experiências cujos resultados não podem ser previstos com certeza, mas que se encontram dentro de certas probabilidades de reprodução. Por exemplo, se uma pessoa de olhos azuis se casa com uma de olhos negros e seu filho nasce com olhos negros, a mesma "experiência" não garante que o próximo filho também terá olhos negros. Esta experiência não é exatamente reprodutível, porém não se considera violado o critério de reprodutibilidade porque o resultado pode ser previsto dentro de certas probabilidades. Se o filho vai nascer com olhos negros ou azuis é uma questão resolvida pelo acaso.

Há, portanto, resultados de experiências que não obedecem à condição R&R, mas são considerados científicos. Além do exemplo acima, da Biologia, podemos encontrar muitos outros nos domínios da Psicologia. "Estas não são ciências exatas, como a Física", alguns argumentarão. Terão razão? Seria realmente a Física uma ciência exata? A teoria que a Física Moderna acalenta com o maior carinho é a Teoria Quântica. Se alguém julga que essa teoria é exata é porque pouco ou nada sabe sobre ela.

Voltemos à questão da condição R&R, que sabemos não ser satisfeita nem pela Biologia nem pela Psicologia. Por que os experimentos nessas áreas não satisfazem aquela condição e, não obstante, seus resultados são considerados científicos? Na verdade, temos aqui duas perguntas: Por que não satisfazem a condição R&R, e, mesmo assim, por que são considerados científicos?

A segunda pergunta é mais fácil de ser respondida, se não nos preocuparmos com rigores de ordem filosófica e ater-nos a definições. Assim, respondemos: os resultados são científicos por definição, porque Biologia e Psicologia são ciências formais, não exatas é verdade, mas são ciências.

Sistemas biológicos desafiam a Física

E por que os experimentos realizados na área da Biologia e da Psicologia não satisfazem necessariamente a condição R&R? Simplesmente porque os instrumentos com os quais as experiências são realizadas, - o ser humano, os animais, os vegetais -, têm vida, têm inteligência, tomada esta em seu sentido mais amplo.

Os sistemas biológicos desafiam uma das teorias mais básicas da Física, a Termodinâmica. Posto de forma simples, uma das leis fundamentais da Termodinâmica, a lei da entropia, afirma que a desordem no universo tende a aumentar, isto é, a entropia, ou desordem, do Universo está sempre aumentando ou fica estável, mas nunca diminui. Isso se verifica de forma indubitável em sistemas físicos em geral. Contudo, sistemas biológicos, apesar de serem também sistemas físicos, violam indisfarçadamente essa lei. Esses sistemas se desenvolvem de forma que suas partes se organizam de forma ordenada. E não se sabe explicar exatamente a razão para esse comportamento "estranho", nem qual a sua causa.

A violação dessa lei da Física ocorre porque nesses sistemas há vida. Precisamos, então, entender o que é a vida, o que a produz. Os cientistas têm-se esforçado, inutilmente, para encontrar a fonte da vida na matéria e nas leis do acaso. Com base no hipotético big bang, o universo e tudo que nele se encontra e manifesta seriam acontecimentos fortuitos, frutos do acaso. É divertido notar que se não pudessem contar com a hipótese do acaso, os cientistas andariam sem rumo, ao acaso!

A condição R&R nos fenômenos microscópicos

Não são apenas os fenômenos biológicos e psicológicos que violam a condição R&R. Na Física, talvez a ciência mais respeitada da atualidade, há situações em que a condição não é e nem pode ser satisfeita. Uma situação de aparente desconforto, mas os físicos convivem tranqüilamente com ela. É neste ponto que retornamos à Teoria Quântica.

As experiências físicas realizadas nos domínios do microcosmo estão longe de satisfazerem a condição R&R. Os resultados emergentes dessas experiências podem ser reproduzidos e explicados apenas dentro de certas probabilidades. Por exemplo, uma amostra de urânio 238 está constantemente emitindo partículas alfa (núcleo do átomo de hélio, formado por dois prótons e dois nêutrons). Se num dado momento emitir uma dessas partículas, isto não significa a certeza de que emitirá outra no próximo segundo (não estamos nos preocupando com detalhes quantitativos; poderia ser no próximo milionésimo de segundo ou nas próximas horas). Pode-se, é verdade, calcular a probabilidade de isso ocorrer. Mas é apenas uma probabilidade, não uma certeza que ocorra naquele intervalo de tempo.

É famosa a frase de Einstein referindo-se à Teoria Quântica: "Deus não lança dados". Ele queria dizer que a Teoria Quântica precisa se apoiar em probabilidades porque a ciência ainda não desvendou algum segredo da natureza, ou seja, falta descobrir alguma lei ou parâmetros que ainda insistem em permanecer ocultos ou elusivos.

Que lei ou parâmetros poderiam ser? Acreditamos que a resposta não é tão complicada como pode parecer. Contudo, antes de prosseguir, podemos encontrar nos livros Fatos espíritas [de William CROOKES, físico inventor dos tubos de raios catódico], Fenômenos de transporte [Ernesto BOZZANO, pesquisador italiano na área da metapsíquica, com mais de 50 obras publicadas] e Levitação [Albert de ROCHAS, diretor da École Polytechnique, de Paris] fenômenos físicos relatados por pesquisadores credenciados e com longa experiência com desenvolvimento de projetos e execução de experiências laboratoriais nas universidades onde trabalhavam. Como todos esses fenômenos requerem a presença de um médium para serem realizados, os cientistas não lhes deram e nem dão importância. Primeiro porque o assunto lhes causa aversão e preconceito: se entra um médium em cena, é inevitável a mistificação, precipitadamente concluem; segundo porque os fenômenos não são reproduzidos quando eles quiserem. Não satisfazem, portanto, a condição R&R.

Outros fenômenos, como vimos, também não satisfazem essa condição e são considerados científicos. Vimos que a razão é que esses fenômenos ocorrem em sistemas vivos, ou seja, por trás deles há um elemento crucial, a vida. Atrás dos fenômenos mediúnicos, o elemento vida também é crucial. Os fenômenos são produzidos por forças naturais que as religiões chamam de espírito. São forças inteligentes e dotadas de vontade própria. A ignorância da natureza dessas forças levou à imagem equivocada de que espíritos são entidades com braços, pernas, cabeça e ... até barbas! E outros absurdos. É como se explicasse que a força de gravidade atua sobre os corpos utilizando-se de mãos.

O médium nada mais é do que um instrumento. Ele não é a causa dos fenômenos, como uma balança não é causa do peso de um objeto. A causa dos fenômenos relatados naqueles livros - e em muitos outros - são forças que necessitam de um médium para atuar, da mesma forma que uma força necessita de uma alavanca para deslocar uma pedra.

Além disso, ao contrário da gravidade que atua constantemente e está permanentemente à nossa disposição para efetuar experiências que a envolvam, as forças que atuam com o auxílio de um médium têm vontade própria. A condição R&R será satisfeita se essas forças inteligentes decidirem ou tiverem condições para reproduzir o fenômeno. Da mesma forma, o resultado de uma experiência num laboratório de física, por exemplo, somente será alcançado se o experimentador quiser realizá-la. As experiências somente são reproduzidas se houver a intervenção da vontade do experimentador.

Estudo das forças da natureza

Tudo que há no universo se resume a forças e matéria. Esta inerte, plasmável; aquelas atuando constantemente sobre a matéria. A ciência dará um passo enorme quando os cientistas se dispuserem a estudar as forças em si, e não como algo que emerge da matéria.

O passo será ainda maior quando descobrirem que há forças inteligentes, dotadas de vontade própria, forças estas que, infelizmente, têm sido cercadas de misticismos e lendas.

Bibliografia (disponível na "Biblioteca" deste site)

BOZZANO, Ernesto, Fenômenos de transporte
CROOKES, William, Fatos espíritas
ROCHAS, Albert de, Levitação


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