Valdir Aguilera
 Físico e pesquisador

 

 

Buracos negros

Valdir Aguilera

Os buracos negros não são buracos, nem negros. Então, por que buracos? Por que negros? Quando olhamos para o céu durante a noite, vemos muitos pontos luminosos. Antigamente, pensava-se que eram pequenos orifícios na abóbada celeste através dos quais podíamos ver a luz de uma suposta enorme fogueira por trás do céu (Anaximandro, 610 aC-545 aC). Hoje sabemos que esses pontos luminosos são corpos da mais variada natureza, como planetas, estrelas ou objetos mais complicados, como as galáxias.

Os instrumentos ópticos foram sendo aperfeiçoados e foram construídos telescópios com lentes cada vez mais poderosas que permitiram concentrar raios luminosos que nos chegam de todas as partes do espaço sideral. Além des­ses telescópios ópticos, há hoje instrumentos capazes de captar raios X emitidos por fontes bastante distantes, como estrelas compactas e estrelas neutrônicas. Foi observando raios X que se che­gou ao descobrimento dos buracos negros.

A existência deles já era teoricamente prevista em 1783 (John Michell) e 1795 (Pierre Simon Laplace) com base na teoria de gravitação de New­ton. A Relatividade Geral de Eins­tein (1915) também permite pre­ver a existência dos buracos negros.

Afinal, o que são os buracos negros? São regiões do espaço que contêm matéria em quantidade e densidade tão altas que produzem um campo gravitacional extraordinariamente forte que atrai quaisquer objetos que se aproximem delas. Esses objetos são atraídos com tanta violência que desenvolvem velocidades incríveis que os fazem em pedaços e, em consequência, muitos emitem raios X. Esses raios não são, então, emitidos pelos buracos negros e sim pelos objetos durante o processo de atração e captura. Os objetos atraídos não mais têm con­dições de sair dessa região, daí o nome de buraco. Como nem a luz pode escapar, diz-se que o buraco é negro, pois negra é a cor de algo que não emite ou reflete luz alguma.

Ficamos imaginando: se buracos negros não podem ser vistos, como podemos saber que existem? Como mencionado acima, é pelo efeito que eles produzem sobre o movimento de matéria – como poeira cósmica, gases e estrelas –, que se encontra em suas vizinhanças.

Em épocas mais recentes, observatórios espaciais de muita precisão foram enviados ao espaço a bordo de satélites artificiais. O mais famoso é o telescópio orbital Hubble. Com a ajuda deste e de ou­tros telescópios poderosos, foi possível encontrar muitos buracos negros. Os buracos negros des­cobertos recentemente no centro de galáxias contêm massas equivalentes a alguns milhões (ou bilhões) de vezes a massa do nosso Sol.

O buraco negro mais pró­ximo de nós situa-se na cons­telação de Sagitário, na Via Láctea. É designado por V4641. Um mito que assombra algumas pessoas é que esse buraco negro está crescendo e um dia irá engolir a Terra. Como dissemos, um mito e, como tal, “nosso” buraco negro não ofe­rece perigo algum. Ninguém deve perder o sono por causa dele.

(Este artigo foi publicado na edição de maio de 2013 do jornal A Razão.)  

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