Valdir Aguilera
 Físico e pesquisador

 

 

A educação dos filhos

Valdir Aguilera

Todos temos consciência do terrível problema das drogas que vêm, assustadoramente, ganhando terreno entre os jovens. Não é difícil identificar o principal germe causador do mal: está na própria família do jovem. Um lar bem formado é o esteio, o amparo que assegura aos filhos a confiança, a paz, a harmonia de que tanto necessitam para a formação sólida de um bom carácter. O lar deve ser um repositório de amor e de exemplos. Já dizia o grande Antônio Vieira que a humanidade precisa que se lhe fale aos olhos e não aos ouvidos.

Uma família bem formada, apesar de ser condição necessária para a formação saudável, psíquica e fisicamente, dos nossos filhos, não é condição suficiente. Os exemplos que lhes damos (que são os que mais fundo calam) são de fundamental importância, mas não bastam. Temos de dar-lhes, também, ensinamentos nos quais confiam, ensinamentos dos quais resulte a consciência dos deveres que têm com a sociedade e consigo próprios. Ensinamentos que construam jovens corajosos, prontos para enfrentar a vida com cidadania, em busca do seu lugar na sociedade.

Os jovens já não acreditam em deuses, e não sem razão. Os deuses que lhes são apresentados são falsos. São produtos de adoradores e nenhum adorador é capaz de dissociar a idéia de adorar da de pedir. Os jovens não querem pedir, querem conquistar. Como afirmou Luiz de Mattos em 1910, esses deuses a quem são dirigidos os pedidos são "de tal maneira desavisados e vivem tão alheios, tão arredios, tão indiferentes aos problemas humanos que sua atenção para esses problemas somente é despertada pelos apelos que recebem. É preciso que se lhes peça piedade para que se apiedem; que se lhes suplique misericórdia para tornarem-se misericordiosos; que se lhes implore paz para que pacifiquem, que se lhes rogue justiça para que sejam justos". Os jovens não mais aceitam essa ilusão. E cá entre nós, qual pai zeloso pelo bem de seus filhos vai exigir deles a humilhação e submissão para que tenham direito ao carinho e ao amor? Esse pai não existe, ou é um déspota.

Esses falsos deuses, criações de uma humanidade adoradora, há séculos vêm tolhendo a capacidade de análise e raciocínio das pessoas. É hora de mostrar aos jovens como usar seus próprios recursos psíquicos. Conhece-te a ti próprio, disse o grande e respeitável filósofo grego. Parte desse conhecimento é identificar nossos atributos psíquicos. Entre eles, em posição de elevada importância, estão a intuição, o raciocínio e o livre-arbítrio. Através da intuição sentem-se as tendências para o bem ou para o mal; pelo raciocínio identifica-se a natureza da intuição, e, finalmente, pelo livre-arbítrio decide-se que decisão tomar, que caminho seguir. A responsabilidade da decisão somente é sentida em sua plenitude quando se tem conhecimento de si próprio, como ensinava Pitágoras. É necessário desenvolver nos jovens a confiança em si próprios. É esta confiança que lhes vai assegurar um futuro feliz. É contraproducente incutir em suas cabeças idéias que consideram absurdas (por que realmente são absurdas). Irão procurar em outro lugar e ficarão à mercê de aproveitadores de todos os tipos, que infelizmente não faltam.

Não é minha intenção polemizar. Todas idéias devem ser respeitadas (mas, não necessariamente acatadas). Apenas manifesto minha opinião para análise de pessoas de bem. Até proponho que essas idéias sejam discutidas com os jovens para ouvir o que eles têm a dizer sobre elas.


 

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