Buscar outros caminhos
José Alves Martins
"Força é, pois, ir buscar outro caminho!
Lançar o arco de outra nova ponte
Por onde a alma passe - e um alto monte
Onde se abra à luz o nosso ninho.
Avante! Os mortos ficarão sepultos...
Mas os vivos que sigam, sacudindo
Como o pó da estrada os velhos cultos!"
Antero de Quental
Esta "História do racionalismo" que venho publicando (com interrupções) neste jornal é um relato dos movimentos racionalistas registrados na história da humanidade ou da filosofia e até da literatura (haja vista, por exemplo, os versos de Antero de Quental supracitados). Movimentos que, sem dúvida, culminaram com o luminoso advento do espiritualismo racional e científico, doutrina codificada nos alvores do século XX por Luiz de Mattos.
Sobre o assunto em pauta, primeiro publiquei aqui alguns ensaios e, numa segunda etapa, anos depois, uma série de 45 artigos. Volto agora com este, de número 46, a dar continuidade ao trabalho. Num dos textos iniciais dessa série, foram especificados os diversos conceitos de racionalismo. Tomado, porém, em sua acepção mais simples e comum, ele pode ser definido como o ato de pensar, raciocinar, fazer uso da razão. Nesse sentido, é tão antigo quanto o Universo, composto de Força (em eterno processo de evolução) e Matéria.
Na Terra, no entanto, o racionalismo começa com as primeiras manifestações de inteligência, de pensamento racional, nos tempos pré-históricos, quando o homem primitivo, dito Homo sapiens, apareceu no planeta. Então, na inevitável e tremenda luta contra o meio inóspito e selvagem, foi a razão a ferramenta ou arma decisiva para a raça humana garantir sua sobrevivência e começar a abrir seu caminho rumo ao progresso e à civilização.
Quando o homem primitivo, auxiliado por suas faculdades mediúnicas, se apercebeu da sobrevivência e eternidade da alma, brotou também na sua mente o gérmen da filosofia, ou seja, a preocupação inata ao espírito encarnado de responder a estas questões fundamentais: de onde viemos, quem somos e para onde vamos?
O homem do Paleolítico não praticava qualquer espécie de culto ou religião. Não se deixava envolver ou contaminar por sentimentos de natureza mística e religiosa. Os próprios desenhos e pinturas desse período não denotam que tenham sido destinados a qualquer espécie de culto. "Nada existe nessas produções que possa ser interpretado como símbolo místico ou religioso", observa um historiador. Porém foi bem mais tarde, no século VI antes de Cristo, que aconteceu um dos mais decisivos e marcantes movimentos de cunho racionalista da Antiguidade e, pode-se dizer, de todos os tempos.
De fato, nesse período histórico surgiram, na Índia, Jaina Vardhamana e Buda Gautama, fundadores, respectivamente, do jainismo e do budismo; na China, Lao-Tsé, mestre maior do taoísmo, e Confúcio, que lançou as ideias básicas do confucionismo; na Palestina, Ezequiel e Jeremias, dois dos grandes profetas hebreus; na Jônia, colônia grega, Tales de Mileto, fundador da filosofia – ciência da razão –, e outros filósofos pré-socráticos. Foi graças a esses personagens históricos que surgiram no mundo pela primeira vez, acredita-se, doutrinas de cunho moral e filosófico despojadas ou libertas do sobrenaturalismo e do misticismo próprios dos velhos cultos religiosos.
Os racionalistas radicais Leucipo e Demócrito, elaboradores da doutrina atomista e que encerraram o período da filosofia pré-socrática, foram o tema do último texto que fechou a série de meus 45 artigos publicados em A Razão. O próximo artigo vai focalizar a figura de Protágoras, considerado o primeiro dos sofistas – e o mais célebre.
Os 45 textos, resumidos neste breve artigo, podem ser lidos, na íntegra, no site valdiraguilera.net ou nas edições de 2006 em diante deste jornal (www.racionalismocristao.net).
(Publicado originalmente no jornal A Razão, de agosto de 2016, http://arazao.com.br)
De "Diversos conceitos de racionalismo" para "Artigos"
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