Filosofia helenistica
José Alves Martins
Com o artigo anterior, demos um grande salto no tempo, de volta ao
futuro, para, a pedido, falar sobre o Cavaleiro de Oliveira, que viveu no
século XVIII de nossa era, e assim desobedecemos a ordem cronológica
que tem sido mantida na publicação desta enumerada série de artigos sobre
a história do racionalismo.
Com o presente texto introdutório sobre a filosofia do Período Helenístico,
decorrido entre o século III e o século II antes de Cristo, damos outro
grande salto no tempo, agora de volta ao passado e à ordem cronológica, excepcionalmente
desobedecida.
O epicurismo, o estoicismo e o ceticismo são as três correntes que
dominaram o pensamento filosófico no Período Helenístico, assim chamado
em razão da influência que a cultura grega passou a exercer, nessa
época, na vastidão de territórios conquistados por Alexandre Magno.
A cultura helenística, consequência das conquistas militares de
Alexandre, foi o resultado da fusão de diversas sociedades, principalmente
a grega, a persa e a egípcia. Nesse contexto, diz a historiadora
Juliana Bezerra, elementos gregos acabaram fundindo-se com as culturas
desses povos. Esse processo deu lugar a uma nova cultura, o helenismo,
numa referência ao nome que o povo grego atribuía si mesmo:
“helenos”.
A capitulação das forças gregas ante o poderio do exército macedônio
e depois as conquistas militares de Alexandre sobre outras nações
resultaram em profundas mudanças no mundo grego, constituído pela
Grécia e suas colônias.
A derrocada sofrida pelas Pólis gregas (cidades-Estado) teve como
marco inicial a derrota de seu exército, em 338 antes de Cristo, na batalha
de Queroneia, vencida por Filipe II da Macedônia; e como marco
fatal o total domínio da Grécia pelo novo rei macedônio, Alexandre, que
assumira o trono com a morte do pai. O que era o mundo grego passara a
integrar um vasto império e assistira ao fim da autonomia de suas cidades
-Estado e à negação de sua outrora valorosa e gloriosa Hélade.
“Era uma vez as Pólis gregas”, teria dito, mais tarde, um general grego
que sobrevivera às sangrentas batalhas vencidas pelos macedônios.
No entanto, observa a historiadora da filosofia Ana Luísa Astiz, se,
por um lado, as cidades-Estado chegaram a ponto de ter seu funcionamento
político totalmente alterado, por outro, isso acabou propiciando
aos gregos a oportunidade de realizar – com o patrocínio do próprio
Alexandre, grande admirador da cultura helênica – a disseminação dos
valores da civilização grega nos territórios conquistados por ele. Tanto
que, diz Ana Luísa, quando ele morreu, em 323 antes de Cristo, o pensamento
grego era conhecido desde o Egito até a Espanha.
Ao perderem as cidades-Estado gregas sua soberania, o exercício
da política deixou de ser um direito comum a todos os seus cidadãos.
“Assim”, diz ainda Ana Luísa, “o modelo grego difundido nos territórios
conquistados por Alexandre e seus sucessores não foi político, e sim
cultural.”
Também segundo ela, o conhecimento, antes dedicado a formar
o cidadão grego para capacitá-lo a exercer funções políticas, dedicava
maior atenção agora ao comportamento humano e à transformação
das ciências num saber autônomo, ou seja, desvinculado, independente
da filosofia.
Quanto à filosofia, que se deslocara do campo político para o comportamento
humano, sua preocupação agora era a busca de normas de
conduta que pudessem proporcionar às pessoas a paz interior. “O bem –
antes no Mundo das Ideias – passara a ter um sentido existencial: é aquilo
que é bom para cada um.”
O helenismo foi um tempo de especializações nos diversos campos
do conhecimento; e também um período em que as ciências experimentais
e a matemática foram adquirindo importância cada vez maior.
Foi ainda nessa época que a ideia de “comunidade científica”, que teve início
na Academia platônica e no Liceu de Aristóteles, pôde ser ampliada e
aperfeiçoada ao serem instaladas, em diversos palácios, bibliotecas e
centros de pesquisa.
De acordo com Ana Luísa, as “novas” filosofias adquirem, no Período
Helenístico, caráter acima de tudo prático. “Trata-se de salvar o homem
e de dar sentido a sua vida individual fora dos muros das cidades destruídas
ou em decadência.”
De "História do racionalismo-74" para "Artigos"
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