História do racionalismo - 79. Estoicismo, a doutrina professada
pelos reis e imperadores da época
J. Alves Martins
Epicuro, Zenão de Cítium e Pirro, fundadores, respectivamente, do epicurismo,
do estoicismo e do ceticismo, formam o trio de pensadores que marcaram
o pensamento filosófico do Período Helenístico.
Zenão (335-263 a.C.) nasceu, como diz seu nome, na cidade de Cítium, localizada
na ilha de Chipre. (Não deve ser confundido com Zenão de Eleia, filósofo
pré-socrático). A ilha de Chipre, outrora posse grega, tem na atualidade status de
país independente, com o nome de República de Chipre. E a antiga Cítium de Zenão
é hoje a moderna cidade de Lárnaca.
História do estoicismo A doutrina dos estoicos (filósofos do pórtico) divide-se
em três períodos: antigo, médio e romano. No antigo, destacam-se seu fundador, Zenão
de Cítium, Cleanto de Assos (331-232 a.C.) e Crisipo de Solis (280-207 a.C.); no
médio, Panécio de Rodes (185-109 a.C.) e Posidônio de Apameia (135-51 a.C.); e no
período romano, já em nossa era, Sêneca de Córdoba (4-65), o escravo Epíteto de
Hierápolis (55-135) e o imperador Marco Aurélio (121-180), que esteve à testa do
Império Romano de 161 a 180.
Segundo o historiador da filosofia Bryan Magee, essa lista de famosos estoicos
tem representantes de todos os níveis da hierarquia social, sendo um deles
até escravo, e outro, imperador.
Aliás, diz Magee, a filosofia estoica parecia ter um apelo especial que atraía
os monarcas do Período Helenístico – quase todos os sucessores de Alexandre
Magno, ou seja, “os principais reis que existiram depois de Zenão, professaram o
estoicismo”. Iniciado como um movimento de reação aos epicuristas, o estoicismo
permaneceu organizado ao longo de seis séculos, do IV a.C. ao II d.C.
Com os estoicos, e por meio deles, diz Magee, a filosofia do Ocidente deixa de
ser especificamente grega para tornar-se internacional.
Com efeito, a maioria dos estoicos do primeiro período dessa corrente filosófica
era, segundo o estudioso, de nacionalidade síria, e quase todos do terceiro
período tinham cidadania romana. Isso, observa ele, foi consequência direta das
conquistas de Alexandre, por meio das quais pôde ser difundida a cultura grega
através do mundo civilizado de então.
A lógica estoica Tal como a lógica desenvolvida pelo filósofo Aristóteles, a dos
pensadores estoicos também constitui importante contributo para o desenvolvimento
da lógica contemporânea.
O estoicismo propõe uma lógica definida como “proposicional”, isto é, “baseada
não em nomes, mas no modo de dizê- los na proposição” (sentença, oração,
frase ou enunciado), a qual pode ser verdadeira ou falsa. Na proposição, o significado
ou aquilo que se diz é imaterial, “algo entre a realidade das coisas e a realidade
das palavras”.
A ética No que tange à moral, Zenão estabelece como princípio fundamental
da ética estoica a “eudaimonia”, termo grego que significa felicidade. Viver em
concordância com a natureza, diz ele, é, na verdade, a expressão maior da virtude
e a causa maior da felicidade. “Essa concordância é racional, coincide com a
Razão, ou Logos, da vida e da natureza, entendida esta como o Todo Universal,
com sua harmonia e plenitude.”
Nesse ponto observa-se marcante diferença entre o estoicismo e o epicurismo.
Entre outras normas de filosofia de vida, o epicurismo estabelece que se
deve aceitar tão somente as condições do “aqui e agora”. Segundo a filosofia de
Zenão, no entanto, há uma identificação do homem com o Logos, “que reside além
da natureza humana, e a concordância é feita envolvendo o indivíduo numa harmonia
universal”.
Desse modo, a felicidade, como a entende Zenão, é tratada “em níveis mais
teóricos do que a concreta projeção nos limites do próprio corpo, como pretendiam
os epicuristas”. Portanto, diz o filósofo, ser feliz é ser virtuoso e entender o momento
supremo do homem na adequação com o Logos, ou Razão Universal. Isso torna o
homem independente e lhe proporciona compreender “o além das coisas”.
A Física A unidade do real é considerada por Zenão uma das ideias centrais
de sua doutrina. De acordo com ele, a Razão e a natureza são uma só coisa, e o
desenvolvimento da vida e da natureza é um processo pleno de racionalidade e
coerência.
Zenão, porém, chama de ”real” apenas o que seja passível de ser captado
pelos sentidos, ou seja, tudo que tem corpo ou concretude material. Mas admite a
existência de um Logos, ou Pneuma (espírito, sopro animador ou força criadora),
que tudo penetra ou preenche e que ele
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