História do racionalismo - 84. O estoicismo na Roma imperial - 5
J. Alves Martins
"O mais virtuoso dos imperadores romanos", Marco Aurélio, nascera vocacionado para as letras
e a filosofia. Foi, porém, desviado de sua verdadeira vocação, uma vez que fora nomeado por
seu pai, o imperador Antonino Pio, para sucedê-lo.
Agora, aos 40 anos, assumira o trono, pois seu pai morrera, e Marco Aurélio teria de governar
o então maior e mais poderoso império do mundo e de viver em guerra contra os Bárbaros. Não
lhe restaria tempo para a filosofia e as letras.
Com efeito, os originais de Meditações (pequena e única obra do imperador-filósofo, "grande,
porém, em sua profunda autenticidade e encanto de estilo") foram escritos a conta-gotas,
durante dez anos, em momentos de descanso entre uma batalha e outra.
Livro inspirador Para Edson Bini, historiador da filosofia, Meditações,
em razão de seu caráter íntimo, é um dos escritos mais inspiradores e mais reveladores do
pensamento de um grande homem e grande líder. Além de apresentar um conjunto de normas sobre
como se comportar ou agir com os nossos semelhantes, para manter com todos um bom relacionamento,
o livro enfeixa também ensinamentos sobre as virtudes, a felicidade, a morte, os sentimentos,
as paixões e as emoções, bem como sobre a importância de viver em harmonia com a natureza. Vale
dizer, sem transgredir suas leis.
Em sua obra, comenta Bini, o imperador sai de cena e entra o filósofo, "que instrui o aluno e
dá conselhos ao amigo".
Fiel a um dos princípios básicos do estoicismo de que não pode haver qualquer autoridade superior
à razão, Meditações é obra isenta de quaisquer indícios de sentido religioso, místico ou
mitológico.
Diálogo interior É também um diálogo interior do autor tendo em vista
identificar "verdades fundamentais, por meio da razão, sem, no entanto, deixar de lado a
sensibilidade".
Entre os conceitos de cunho moral ou de ordem transcendente da obra de Marco Aurélio,
encontram-se, por exemplo, o que preconiza a harmonia do ser humano com a natureza, bem
como a aceitação de suas leis; e o que ele denomina "Ordem Universal", força lógica e
benevolente que organiza o Universo.
Tal qual outras filosofias, entre as quais o Racionalismo Cristão, a do estoico imperador
também afirma ser o homem composto de três elementos: o corpo físico, o corpo anímico
(em latim, "anima ", pronuncia-se "ânima") e o espírito, "intimamente vinculados à Ordem
Universal". O homem, diz Marco Aurélio, é cidadão do Mundo e parcela da Natureza Eterna, à
qual volta após a morte do corpo físico.
Segundo um estudioso, a obra Meditações, além de constituir uma demonstração de confiança na
razão, é também uma fonte inspiradora de coragem ante os reveses, obstáculos e adversidades
do viver terreno.
Pequeno e importante "Nunca um pequeno livro terá sido, até hoje, tão importante
na seara filosófica quanto as Meditações de Marco Aurélio" - disse-nos certo dia o então já idoso
e venerando Ângelo Daversa, de saudosa memória, antigo professor de filosofia de um seminário, em
Pernambuco, e caro mestre que temos citado aqui algumas vezes.
A filosofia estoica exerceria profunda influência sobre o cristianismo primitivo, que, tendo chegado
a Roma ali pela metade do século I d.C., começava a difundir-se na época em que os três maiores
representantes do estoicismo romano, Sêneca (4 a.C-65 d.C), Epicteto (50-135 d.C) e Marco Aurélio
(121-180 d.C), tinham escrito suas obras.
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