Não se perde a memória; o que se perde é a capacidade de recuperar registros
Marclei Barbosa Santiago
Evidências científicas aproximam, cada vez mais, a ciência da filosofia espiritualista. São inúmeras, paulatinamente elas vêm estreitando a distância entre essas duas áreas do conhecimento. Pesquisas e descobertas científicas mais recentes, na área do conhecimento denominada neurociência, apontam evidências de que a memória não é perdida, perde-se é a capacidade de recuperar as experiências registradas na memória.
Cresce cada vez mais a preocupação com a perda ou que se apague a memória e o receio de se estar enveredando pela demência, como as doenças de Alzheimer e Parkinson, enfermidades neurodegenerativas, cujos transtornos vão muito além da perda de memória. Muitas pessoas, toda vez que se esquecem de seus compromissos, suas chaves, deixam o fogão ou ferro de passar roupa ligados, o leite derramar, portas destrancadas, o simples fato de não se lembrarem de um nome, logo se preocupam com a perda de memória. Na maioria dos casos, porém, esses pequenos e irritantes incidentes são parte da perda normal de memória associada à idade, cansaço ou mesmo devido ao estresse, não um sinal iminente de demência.
Este artigo procura tratar, em síntese, o que é memória, suas modalidades, como se forma, sua constituição e funcionalidades, investigando através do método comparativo, válido e reconhecido pela ciência, as similaridades e divergências entre o que apontam as evidências científicas recentes e o arcabouço teórico e prático da doutrina racionalista cristã, sobre a questão instigante: a memória é perdida ou apagada, ou, perde-se apenas a capacidade de recuperá-la?
Memória na visão da ciência A capacidade de memorização é, antes de tudo, um fenômeno biológico e psicológico que envolve uma cooperação entre sistemas cerebrais que funcionam conjuntamente. A memória é uma faculdade cognitiva ligada a um complexo mecanismo que abrange o arquivo - registro ou armazenamento – e a recuperação – leitura ou busca - de experiências, e está intimamente associada à aprendizagem. A aprendizagem é a aquisição de novos conhecimentos e a memória é a retenção dos aprendidos. O hipocampo – região cerebral localizada nos lobos temporais –, próximo às orelhas, é considerado pela ciência como a área responsável pelo armazenamento de lembranças, apesar de atuar em série e em paralelo com outras estruturas cerebrais que compõem esse complexo sistema chamado memória. Ela nada mais é que interações entre os neurônios. Para memorizar algo, o cérebro realiza conexões entre as células envolvidas naquela informação, criando uma afinidade entre todas elas. Ao se recordar dessa referência, os mesmos neurônios responsáveis por aquela ligação são ativados, recuperando os dados.
Modalidades de memória A memória não é uma função isolada. O termo memória engloba várias modalidades de lembrar e algumas delas não declinam com a idade. Pessoas mais velhas, por exemplo, continuam dominando seu vocabulário, junto com seu conhecimento geral sobre o mundo (memória semântica). Elas são capazes também de executar tarefas rotineiras, como dirigir o carro, fazer uma omelete, ou digitar em um computador (memória processual) com destreza mais ou menos igual à que tinham quando eram mais jovens. Mas seu desempenho piora para lembrar de fatos recentes em sua vida (memória episódica) ou recordar onde receberam originalmente uma informação (memória de origem), gerenciar o armazenamento temporário de informações de curto prazo (memória de trabalho), e lembrar-se de coisas a fazer (memória prospectiva).
Evidências científicas Pesquisa recente, relacionada à memória, agitou o mundo científico. Utilizando-se de modelos camundongos, que, como os seres humanos, tendem a ter princípios comuns em termos de memória, os cientistas realizaram alterações genéticas que deixaram os animais com sintomas semelhantes aos de pessoas com Alzheimer, e separaram outro grupo com animais saudáveis. Posteriormente, ambas as amostras sofreram pequenos eletrochoques dentro de um recipiente. Os animais foram colocados em caixas cuja superfície inferior estava eletrificada, causando uma descarga desagradável, mas não perigosa, sobre os seus membros sempre que tocassem nessa estrutura. Os que não apresentavam sintomas de Alzheimer demonstraram temor em voltar para a caixa, o que não ocorreu com os roedores portadores dessa enfermidade neurodegenerativa, indicando as dificuldades de memória de curto prazo que são típicas de quem tem demência. A reviravolta aconteceu quando o grupo de ratos com Alzheimer, por meio de uma técnica conhecida como optogenética, foi exposto a uma luz azul que estimula áreas específicas do cérebro – as chamadas "células de engramas", relacionadas com a memória –, fazendo com que os ratos passassem a se lembrar da sensação desagradável, permitindo a eles recuperar experiências e memórias que pareciam esquecidas.
A iluminação estimulou células do cérebro ligadas à memória, e, após esse impulso, os ratos com Alzheimer também demonstraram medo de voltar para a caixa de choques. Igual resultado foi observado quando os animais eram colocados num recipiente diferente durante o estímulo, o que comprova que a memória se manteve, ela não se apaga. Ao analisar a estrutura física do cérebro dos ratos, os investigadores mostraram que os animais afetados com a doença de Alzheimer tinham menos "espinhas dendríticas", através das quais as conexões sinápticas são formadas. Com a repetição dos estímulos luminosos, os animais podem incrementar o número de espinhas dendríticas atingindo os níveis dos ratos saudáveis.
Os cientistas constataram que a memória de ratos foi recuperada através de um sinal natural, referindo-se ao recipiente que causava o comportamento de medo. Isto significa que os sintomas da doença de Alzheimer em camundongos foram curados, pelo menos nos estágios iniciais. Segundo os observadores envolvidos nesta pesquisa, trata-se de um indicativo de que a memória sempre esteve presente, ela apenas estava inacessível e precisou de um empurrãozinho – estímulo – para despertar novamente. Estudos demonstram que devido à complexidade do cérebro humano é praticamente impossível apagar definitivamente todas ou certas lembranças, pois as memórias se processam em grande parte em paralelo, e não há possibilidade de inibir o funcionamento de todas as áreas envolvidas.
Por exemplo, quem sofre AVC pode conservar bem as memórias – existem registros duplicados ou multiplicados delas. O que se pode é inibir a evocação de determinadas memórias, mas isso não as apaga ou faz com que fiquem perdidas, pois elas ainda estão lá. Essa pesquisa, patrocinada pelo Centro Riken-MIT para Genética de Circuitos Neurais, é a primeira a mostrar que o problema não é a memória, mas as dificuldades na sua recuperação. Os resultados dessa pesquisa fornecem algumas das primeiras evidências de que a doença de Alzheimer não destrói por completo as memórias específicas, torna-as apenas inacessíveis. Os experimentos sugerem que de fato o que acontece é um problema de acesso à informação, e não que haja incapacidade de registrar, guardar essa memória.
Memória na visão do RC A memória, na ótica da doutrina racionalista cristã, é uma das funcionalidades do subconsciente ou corpo fluídico, componente de essência ou constituição fluídica. Memória é um tema muito estudado em diversas áreas do conhecimento, como na neurociência, psicologia, sociologia, antropologia, filosofia espiritualista. Observa-se que essa temática não é nova, pois, segundo registros, desde a antiga Grécia já se tratava desse assunto. A palavra memória provém do grego e tem o sentido de vir à tona, emergir, aflorar o que está submerso e armazenado. Representa a ação de guardar, registrar ou acumular em algum repositório, para posterior ação de recuperar, lembrar o que está armazenado.
Na ótica racionalista cristã, o ser humano é a mais pura expressão do subconsciente e o subconsciente é a mais pura expressão das diversas experiências vividas, boas e ruins, nesta e em encarnações passadas. A sua constituição é de matéria fluídica, oriunda do mundo de estágio da parcela da Força, que pela ação desta pode ser substituída – diafanizada –, e, transformada – modelada. Sendo a matéria elemento inerte, independentemente de sua densidade, à medida que a parcela da Força vai progredindo, evoluindo, diafaniza o seu corpo fluídico – subconsciente –, substituindo a matéria de que é formado por outra mais sutil, menos densa, mais diáfana, e mais de acordo com o seu progresso, mas os registros da memória armazenados em forma de vibrações jamais são perdidos, apagados.
O subconsciente é um componente fluídico, programável e amoldável. É um agregado de matéria fluídica que funciona como um acumulador de vibrações emanadas da parcela da Força, positivas e negativas, servindo de repositório onde são registrados o seu planejamento astral e as experiências vivenciadas em plano metafísico e físico ao longo de toda sua trajetória evolutiva. No subconsciente são, indelevelmente, registrados fatos, informações, imagens, ideias, conhecimentos, inclinações positivas ou negativas, hábitos que pertencem ao domínio da memória, adquiridos na atual e anteriores encarnações, que modelam o caráter, a personalidade, influenciando de forma determinante a nossa conduta. Os registros do subconsciente podem facilmente emergir, localizando-se na esfera do consciente, por intermédio de mecanismos psíquicos – vibrações do espírito – que são ativados fazendo aflorar os registros para que possam ser percebidos, estudados, analisados, trabalhados e reeditados.
Reeditar o subconsciente – memória – significa mais do que simplesmente lembrar. Na maior parte das vezes, lembrar não é apenas reviver e, sim, coletar, repensar, reconstruir e atualizar com informações, conhecimentos, imagens e ideias de hoje as experiências do passado que estão gravadas em nossa memória, em nosso subconsciente. Podemos não perceber, mas o tempo todo, enquanto raciocinamos, o nosso consciente interage simultaneamente, em via de mão dupla, com o nosso subconsciente e, também, com o ambiente externo em que estamos mergulhados, recebendo de ambas as fontes mensagens que são sinais, dados, informações, imagens, ideias e conhecimentos que são interpretados e processados em nosso consciente e depois armazenados em nossa memória, no subconsciente, e/ou transmitidos ao ambiente externo de forma trabalhada.
Mecanismos psíquicos – que são vibrações do espírito – são acionados, permanentemente, possibilitando um mergulho em nosso subconsciente, garimpando na memória registros armazenados em estado latente, trazendo-os à tona, ou seja, fazendo-os emergir à esfera do consciente para serem trabalhados, atualizados, desenergizados quando inferiores e potencializados, se positivos, e novamente devolvidos, ou seja, gravados em nossa memória, nosso subconsciente. O papel do nosso consciente, quando solicitado a trabalhar e deliberar, é, sobretudo, o de colher, comparar, analisar, concatenar, escolher, atualizar e registrar novas versões de ideias, imagens, dados, informações e conhecimentos em nossa memória, uma das funcionalidades do subconsciente.
Resultado deste estudo comparativo Buscou-se com a aplicação deste método comparar o que afirmam as áreas do conhecimento neurociência e filosofia espiritualista sobre a memória, com a finalidade de verificar semelhanças e divergências entre elas.
Este estudo, através de evidências científicas e o que sustenta a doutrina racionalista cristã, procurou responder a questão: a memória pode ou não ser apagada ou perdida? A ciência, em suas investigações, e a doutrina racionalista cristã, através de seus estudos e práticas e de sua consistente literatura corroboram quanto às evidências científicas de que a memória, jamais é apagada ou perdida, apenas fica inacessível em determinadas condições, devido a falhas ou falta de ação em recuperar, lembrar o que está armazenado. O que pode acontecer é a perda temporária ou definitiva da capacidade de busca ou mecanismo de recuperação das informações, conhecimentos e experiências registradas na memória, devido a barreiras que são disfunções, anomalias, enfermidades de ordem fisiológica (física) e/ou psíquica (metafísica) que, se transpostas ou corrigidas parcial ou totalmente, permitem, novamente, o acesso parcial ou total à memória. Na ótica da doutrina racionalista crista a memória é uma das funcionalidades do subconsciente que é nosso corpo fluídico – memória de essência ou constituição fluídica – que se localiza fora do corpo físico. Portanto, são mantidos em memória, no subconsciente, indelevelmente, os registros de todas as experiências vivenciadas pela consciência, ou seja, pela parcela da Força em toda sua trajetória evolutiva. Através de mecanismos psíquicos acontece apenas a inclusão de novos registros na memória, por intermédio da aprendizagem, que é a aquisição de novos conhecimentos, experiências e a alteração dos registros existentes na memória, o que se dá através do fenômeno da reedição, mas jamais existe a possibilidade da perda ou exclusão, parcial ou total, dos registros da memória – subconsciente. A ciência está convicta de que a descoberta do fato de as vítimas de Alzheimer formarem memória é promissora. Essa constatação da ciência confirma de forma precisa o que nos esclarece e afirma a doutrina racionalista cristã de que tudo, absolutamente tudo, planejado ou não, que vivenciamos de bom ou ruim é registrado em forma de vibrações em nossa memória, nosso subconsciente, permanecendo neste gravado, indelevelmente, durante toda a trajetória evolutiva da parcela da Força, com o único propósito de servir como prova, registro, bagagem de experiências e aprendizado. A neurociência e as outras áreas da ciência médica investigam o cérebro humano e de modelos animais tentando mapear, compreender e descrever seu funcionamento. O que falta à ciência para avançar ainda mais em pesquisas, objetivando garimpar evidências científicas, é inserir novas variáveis nas investigações para buscar através de estudos e experimentos a convicção de que o consciente e o subconsciente estão fora do cérebro, ou seja, externo ao corpo físico, e que existe algo fora deste que o organiza, incita e movimenta, que é a Força, e deixar de procurar somente na matéria a origem e a causa de todos os fenômenos.
A doutrina racionalista cristã afirma que tomar a matéria como origem e causa é um erro, pois a origem e a causa de todos os fenômenos físicos e metafísicos estão na Força e não na Matéria. Essa limitação da ciência é o motivo de ainda haver muito por compreender, constatar e explicar. O conhecimento integral da natureza do homem como Força (Inteligência) e Matéria (corpo físico e sua contraparte etérica e fluídica) é o ponto de partida de todo o raciocínio em ciência médica e nas outras áreas do conhecimento científico.
Referência bibliográfica: Riken-MIT (EUA) - Centro para Genética de Circuitos Neurais (2016). Scientific American (2016); O mundo secreto do cérebro (2016); Nature (2016); Racionalismo Cristão, 45ª edição (2015); A Vida fora da matéria, 24ª edição (2015); Ciência espírita, 8ª edição (1992); Doutrinações publicadas pela Casa-Chefe do Racionalismo Cristão (2009 -2016).
(O autor é professor universitário, militante da Filial Patrocínio, BH - MG)
Publicado originalmente na edição de agosto de 2016 do jornal A Razão (arazao.net)
De "Não se perde a memória ..." para "Artigos"
Copyright©2008 valdiraguilera.net. All
Rights Reserved |
 |